Com base em denúncia anônima, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal investigam suposto esquema de pagamento de propina, lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio envolvendo o ex-presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás (Codego), Júlio Cezar Vaz de Melo, e o ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) Jayme Rincón, presos temporariamente ontem na Operação Confraria.A Confraria é desdobramento da Operação Cash Delivery, deflagrada em setembro, que teve Jayme e o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) como principais alvos. Na nova apuração, o MPF voltou a apontar Marconi como líder da organização criminosa. “A OrCrim encontra-se em plena atividade de coleta de propina e lavagem de dinheiro, não se limitando à Odebrecht, mas a outras fontes de recursos ilícitos, envolvendo, além da Agetop, também a Codego e a Saneago (Operação Decantação)”, afirma o procurador da República Helio Telho.Alvo da operação, a Codego foi criada em 2015 no governo Marconi e tem orçamento de R$ 55,7 milhões para este ano, segundo faturamento informado pelo órgão. É subordinada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SED) e foi proposta para substituir a Goiás Industrial, com ampliação de poderes, na época em que o governador José Eliton (PSDB) era vice e comandava a SED.Além de Jayme e Júlio, foram presos temporariamente o casal Márcio Gomes Borges, gerente-geral de Distritos da Codego, e Meire Cristina Rodrigues Borges, servidora comissionada da Secretaria Extraordinária de Articulação Política. Houve ainda apreensões na sede da companhia e em endereços dos envolvidos, e sequestro de bens - entre eles, 14 veículos, 3 apartamentos e 4 casas de luxo - avaliados em cerca de R$ 10 milhões. Até aqui, o foco dos investigadores é o patrimônio dos envolvidos. Eles apontam o fato de Julio e Jayme serem donos de uma casa em Búzios que está em nome de um terceiro, que seria laranja, e a incompatibilidade do padrão de vida do casal de auxiliares do governo com a renda mensal. “A inexistência de fontes lícitas de recursos em volume suficiente para justificar a aquisição do portentoso patrimônio por parte dos investigados são indícios suficientes de que o patrimônio em questão, proveio, ainda que indiretamente, dos referidos crimes antecedentes investigados na Operação Cash Delivery, em especial o de Organização Criminosa”, afirma o procurador.A Justiça Federal determinou o afastamento cautelar dos três auxiliares do governo presos e de Marcu Antônio Bellini, chefe de Gabinete da Codego, com proibição de que frequentem repartições públicas com as quais têm vínculo. A decisão foi do juiz federal substituto Rafael Ângelo Slomp.OrigemA denúncia anônima chegou à PF depois da Operação Cash Delivery, em que R$ 1 milhão foi encontrado na casa do motorista de Jayme Rincón, o policial militar Márcio Garcia de Moura. Segundo o denunciante, Márcio Borges também manteria em imóveis de sua propriedade valores recebidos a título de propina na Codego, no mesmo modus operandi do PM. A pessoa informou que Márcio Borges é diretamente ligado a Jayme Rincón e que a propina da Codego seria “resultado do adiantamento repentino do pagamento a fornecedores supostamente participantes do esquema de corrupção e desvio de recursos públicos de contratos firmados pela estatal”. Não há informação sobre valores desviados.O denunciante diz ainda que Márcio Borges foi coordenador de logística do comitê da campanha à reeleição do governador José Eliton. Nas buscas de ontem, foram encontrados R$ 140 mil em dinheiro e R$ 90 mil em cheques.DefesaO governo estadual informou que todos os servidores citados na operação foram exonerados e que a Codego será administrada interinamente pelo vice-presidente Francisco Abreu, ex-deputado estadual, que acumulará as funções. Disse que colabora com o MPF e a PF. A assessoria do governador afirmou que “a coordenação da campanha desconhece qualquer participação e/ou atividade de Márcio Gomes Borges na campanha de 2018”. “Esclarece ainda que a coordenação de logística da campanha da coligação foi exercida por Edivaldo Cardoso, que também afirma desconhecer qualquer atividade do Sr. Márcio Gomes na campanha estadual deste ano.”Advogado de Jayme Rincón, Luiz Alexandre Rassi afirmou ontem que não teve acesso à investigação. “Estão impondo um prejuízo temporal muito grande para solucionar esse problema. Vão impor uma prisão de um dia porque não foi entregue a investigação”, disse.A defesa de Marconi afirmou, em nota, que o ex-governador não é alvo da operação. “Seu nome só aparece quando citam a Operação Cash Delivery, na qual o Marconi é investigado. O que ocorre é que a Operação Confraria à toda evidência não poderia ter foro na Justiça Federal por inquestionável incompetência”, criticou o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay. -Imagem (Image_1.1678924)-Imagem (Image_1.1678925)-Imagem (1.1678970)