O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) inicia o mês de setembro sem dar qualquer avanço aos processos abertos há mais de 90 dias pelos deputados estaduais Bia de Lima (PT) e Amauri Ribeiro (UB). Apesar da promessa de agilidade, as quatro representações decorrentes dos insultos proferidos por Amauri nas sessões dos dias 21 e 22 de maio continuam sem relatoria definida, o que impede a tramitação.Os dois processos chegaram ao colegiado no dia 27 de maio e o único procedimento executado pelo Conselho foi a abertura de prazo para a apresentação das defesas por escrito dos dois parlamentares, o que ocorreu no fim do período de um mês, determinado pelo regimento interno. Desde então, o presidente do Conselho, Charles Bento (MDB), seguiu ausente das sessões até antes do recesso parlamentar e não agendou reunião entre os membros.Charles Bento reclama da falta de agenda dos integrantes do conselho e também da indefinição sobre quem ocupará o lugar deixado por Henrique César (Podemos). O parlamentar saiu de licença médica no início de julho e havia um acordo prévio para que ele assumisse a relatoria das ações. O mandato foi assumido pelo suplente Leo Portilho (Podemos).“A primeira dificuldade é a agenda dos deputados. A outra questão é que o relator não pode ser do partido de nenhum dos deputados representados, do PT ou do União Brasil. Isso reduz as possibilidades e ainda não foi possível conversar e definir quem vai assumir a relatoria. Além disso, com a saída do Henrique César, fui informado pela procuradoria de que o suplente não entra automaticamente no conselho”, alega Charles Bento.O presidente do colegiado afirma ao POPULAR que espera definir ainda nesta terça-feira (02) quem será o novo integrante do conselho. Além disso, conta que foi informado pela assessoria da Casa que a distribuição das representações por quebra de decoro e indicação de relator não depende da realização de reunião presencial ou mesmo híbrida.“Vou trabalhar para me organizar com eles nesta semana. A procuradoria me disse que não precisa ser uma reunião e eu posso ligar para cada membro e designar o relator sem precisar de um encontro. Isso vai facilitar”, aponta.A análise sobre as ações tem sido marcada por desorganização interna na Alego. Apesar do rápido trâmite inicial na presidência e na Corregedoria, a composição do Conselho de Ética ocorreu de forma equivocada, com a indicação de apenas cinco membros titulares e cinco suplentes, enquanto que o número definido pelo regimento interno é de sete integrantes de cada tipo.Depois de correção, além de Charles Bento e, até então, Henrique César, são titulares Virmondes Cruvinel (UB), Rosângela Rezende (Agir), Antônio Gomide (PT), Paulo Cezar Martins (PL) e Lucas Calil (MDB). Os suplentes são Amilton Filho (MDB), Vivian Naves (PP), André do Premium (Avante), Talles Barreto (UB), Major Araújo (PL), Dra. Zeli (UB) e George Morais (PDT).Charles Bento chegou a realizar uma reunião do colegiado logo quando as ações foram protocoladas e registrou a si próprio como relator. Um dia depois, ele admitiu ao POPULAR que havia errado, já que o presidente do colegiado é impedido de assumir a função. Além da alteração, Charles Bento foi orientado por procuradores da Alego a cumprir os prazos definidos pelo regimento interno para a apresentação das defesas e elaboração do relatório, com oitivas dos deputados e testemunhas.Enquanto o Conselho de Ética não se reúne e mantém os processos na gaveta, parlamentares voltaram, na última semana, a trocar ataques durante debates em sessões no plenário e nas reuniões de comissões. Desde o entrevero no fim de maio e a abertura das ações por quebra de decoro, Amauri e Bia deixaram de se citar nominalmente nos discursos, mas isso voltou a ocorrer na última quarta-feira (27) quando o bolsonarista fez referência direta à petista para responder a discurso anterior e criticar o governo federal e o PT. “Nós precisamos dar uma resposta, sim. Essas brigas e ataques são ruins para a Casa e para os próprios deputados, porque são discussões sem fundamento e que quase nunca dizem respeito ao nosso estado. Temos que tomar providência o mais breve possível e definir o relator justamente para sanar essa situação e podermos pedir aos deputados que tenham mais postura”, apontou Charles Bento.Os processos éticos foram abertos por Bia e pelo diretório estadual do PT depois que Amauri fez insinuações falsas sobre a vida privada da deputada. Os ataques direcionados geraram discussões entre os dois e levaram ao encerramento de duas sessões ordinárias. No dia 22 de maio, os embates em plenário levaram à tentativa de agressão por parte de Amauri contra o petista Mauro Rubem, nos bastidores do plenário. Depois de diversos embates ideológicos ao longo do mandato e trocas de ataques quase diárias, Amauri passou a usar, nos dias 20, 21 e 22 de maio, um trecho de entrevista da deputada à Rádio Sucesso para acusá-la, indiretamente, de apologia à pedofilia. Ele insistiu nas ilações nas duas sessões seguintes, com distorções sobre o tema nas vezes em que usou a palavra em plenário. Além disso, Amauri também apresentou duas representações contra Bia.Como antecipado pelo POPULAR, a expectativa entre os integrantes do Conselho de Ética ainda é de que o relatório indique a suspensão do mandato de Amauri por seis meses, com uma advertência a Bia.