Rafael Lara Martins será o novo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Goiás (OAB-GO) no biênio 2022-2025. Ele foi eleito nesta sexta-feira (19) com 7.279 votos, o que representa 39,57% dos votos válidos. O candidato de oposição Pedro Paulo de Medeiros recebeu 6.274 votos — 34,11% dos votos válidos, sendo seguido por Rodolfo Mota (14,92%) e Valentina Jungmann (11,40%).A vitória representa a continuidade do grupo liderado pelo atual presidente, Lúcio Flávio, que encerra seu segundo mandato à frente da instituição neste ano e foi eleito conselheiro federal pela chapa que saiu das urnas vencedora pela terceira vez consecutiva — Lúcio Flávio foi eleito em 2015 e reeleito em 2018.O resultado foi conhecido com 98,38% das urnas apuradas e, ao POPULAR, Rafael diz que sua gestão “será para todos”. “Neste exato momento, se encerra a campanha. Quero e serei um presidente para toda a advocacia.” (leia abaixo) A reportagem não conseguiu contato com o segundo colocado, Pedro Paulo, até o fechamento desta edição.A apuração dos votos neste ano foi transmitida pela internet, uma vez que foi permitida a presença apenas da comissão eleitoral e de fiscais no local. Segundo a assessoria da OAB-GO, a medida foi tomada para evitar aglomerações. Em 2018, a apuração dos votos contou com confusão e empurra-empurra entre advogados em frente ao Centro de Convenções de Goiânia, onde tradicionalmente é divulgado o resultado.Advogado especializado em direito trabalhista, Rafael é conselheiro federal e o atual diretor-geral da Escola Superior de Advocacia (ESA). Ele acabou sendo o escolhido do grupo de Lúcio Flávio para representar a situação no pleito, vencendo a disputa interna que contava também com nomes como o do atual secretário-geral, Jacó Coelho, o da conselheira federal Valentina Jungmann, e o do presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de Goiás (Casag), Rodolfo Mota.Jacó Coelho compôs chapa com Rafael e foi eleito presidente da Casag — cada chapa foi composta por 114 candidatos, incluindo os cargos das diretorias da seccional e da Casag, além de conselheiros estaduais e federais, titulares e suplentes.EleitoradoAproximadamente 25,5 mil advogados foram às urnas nesta sexta-feira (19). O número representa apenas 56,2% do total de profissionais inscritos na seccional goiana, de acordo com os dados mais atuais do Conselho Federal da OAB. Nesta sexta-feira, constavam 45.410 inscrições ativas em Goiás — os dados são atualizados diariamente.A quantidade de advogados que foi às urnas neste ano é próxima do total de advogados aptos a votar na eleição de 2018, quando eram 26 mil. Contudo, àquela época, existiam menos de 40 mil advogados ativos no Estado, segundo dados da OAB Nacional.A diferença se dá, em grande parte, porque nem todos os profissionais inscritos na Ordem têm direito a voto. Os que estão inadimplentes com a anuidade, por exemplo, ficam impedidos de votar. O tema foi, inclusive, um dos pontos mais tratados na campanha, devido às ações movidas pelo candidato Pedro Paulo de Medeiros para que os inadimplentes pudessem chegar às urnas.Ele chegou a conseguir liminar na Justiça Federal permitindo o voto dos inadimplentes, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) acatou recurso movido pelas direções da OAB Goiás e Nacional, e suspendeu os efeitos da liberação. Na semana passada, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), confirmou a decisão do STJ.CampanhaA campanha, que começou efetivamente em 6 de outubro, mas contou com movimentação de pré-campanha muito antes disso, foi marcada por lembranças de polêmicas antigas na gestão da Ordem e troca de acusações. Pela internet, a campanha sofreu, inclusive, com boatos envolvendo familiares e membros das chapas.Fora da internet, ações também movimentaram o cenário eleitoral da entidade. Como mostrou a coluna Giro nesta sexta-feira (19), a chapa do presidente eleito Rafael Lara teve sete candidaturas impugnadas. A de Valentina Jungmann, duas.Com intensa movimentação pelo interior, os candidatos também gastaram muito e os custos devem passar de R$ 5 milhões. A campanha de Rafael foi a que apresentou maior custo estimado: R$ 2 milhões. A campanha do presidente eleito afirmou à reportagem que ele visitou a maioria das 57 subseções da OAB-GO, “algumas mais de uma vez”. “Nas cidades em que ele mesmo não esteve presente, algum representante da chapa esteve.”O segundo maior custo estimado declarado foi de Rodolfo Mota, R$ 1,35 milhão, seguido de Valentina Jungmann: R$ 1,3 milhão. A campanha de Pedro Paulo de Medeiros não forneceu, à reportagem, estimativa do custo da campanha. “A prestação de contas será entregue 30 dias após a eleição”, disse a assessoria.Todas as campanhas afirmaram que o financiamento foi realizado pela própria advocacia, sejam membros da chapa ou advogados apoiadores. "Os temas da advocacia não merecem divisão", diz RafaelO presidente eleito da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Goiás (OAB-GO), Rafael Lara, disse ao POPULAR, logo após o anúncio de sua vitória nesta sexta-feira (19), que sua gestão será “para todos”. “Neste exato momento, se encerra a campanha. Não existe chapa, não existe cor. Quero e serei um presidente para toda a advocacia. Os temas relacionados à advocacia não merecem nenhum tipo de divisão, independente do que algumas pessoas acabam fazendo, diminuindo o nível da campanha.”Um dos principais temas da campanha foi de críticas a um certo alinhamento do grupo de Rafael e do atual presidente, Lúcio Flávio, com o governo de Ronaldo Caiado (DEM). Pessoas próximas do grupo, como o irmão de Lúcio Flávio, Luís Antônio Siqueira Paiva, têm cargos na estrutura do governo estadual — Luís Antônio é chefe de gabinete da Secretaria de Governo (Segov).Questionado sobre o assunto, o presidente eleito relata: “Pode ter certeza que, tanto em nível municipal, nas subseções, quanto em Goiás, a OAB vai ser suficientemente próxima (do governo) para construir pautas conjuntas, mas suficientemente distante para fazer os enfrentamentos necessários. Respeito todos os governantes, mas essa independência é necessária.”Rafael já havia falado sobre o tema durante a campanha, quando sofreu críticas dos adversários por isso. À época, negou proximidade de seu grupo com o governo e argumentou que seu grupo na Ordem “não fez nenhuma indicação ao governo do Estado, a não ser aos conselhos em que a Ordem tem cadeira e precisa indicar”. “Não foi o presidente Lúcio quem indicou absolutamente qualquer pessoa que faça parte do governo. Elas estão lá por mérito de seu relacionamento próprio e das suas competências.”Em relação ao Judiciário, ele repete a resposta: “Falo do Judiciário exatamente a mesma coisa que falei do governo. Ser próximo o suficiente para construir pautas conjuntas, mas distante para o caso de enfrentamentos”. Mas ressalta: “Agora, algo que será mantido sobre a mesa da presidência é a redução das custas judiciárias. Não vou tirar em nenhum momento.”A redução das custas foi uma de suas principais bandeiras de campanha. Perguntado sobre quando haverá movimentação para a efetiva redução, ele informa que irá começar diálogo com o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) sobre o tema, “logo no início da gestão”. “Vamos começar o diálogo com o TJ e, a partir daí, fazer um planejamento de diálogo ou enfrentamento. Isso dependerá da postura do Tribunal.”A respeito da atuação da Ordem em temas de relevância para a sociedade, que extrapolem apenas a advocacia, Rafael afirma que “a OAB vai continuar com respeito à sociedade e, sempre que necessário, vai se posicionar”. Contudo, pondera: “Mas não acho que a Ordem tem que se posicionar sobre qualquer notícia de jornal. É preciso ter clareza sobre a grandeza dos temas.”