Em momento em que a classe política começa a voltar os olhos para as eleições municipais, o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), diz estar ciente de que “precisa viabilizar” sua candidatura à reeleição, garantindo aumento de popularidade e musculatura. Ele admite que depende disso para obter respaldo dentro do próprio partido e na busca por alianças, inclusive com o governador Ronaldo Caiado (UB).Ao comentar a fala do seu novo secretário de Governo, Jovair Arantes (Republicanos), de que havia muitos “prefeitinhos” na cidade, Cruz afirma que só há um prefeito e que as decisões sempre foram tomadas por ele. O prefeito diz que o senador Vanderlan Cardoso (PSD) parece querer antecipar a disputa de 2024 e alfineta o pessedista, que já foi prefeito de Senador Canedo: “Senador Canedo, cidade do interior, não se compara a Goiânia”.Sobre a definição do comando do Republicanos em Goiás, o senhor tentou emplacar Jovair Arantes e não conseguiu, o que foi uma derrota. O que acha? Já não é um sinal de falta de respaldo da direção nacional?Não, eu não vejo como derrota. Colocar o seu nome para definição do partido e haver direcionamento para uma outra pessoa, não é derrota, é você ter participado. Eu participei, tinha interesse, sim. Não ficamos com o partido estadual, mas posso definir quem será o municipal, que é o mais importante para mim. Caso eu decida, até o final de 2023, vir à reeleição, eu tenho uma pessoa que estará à frente do diretório municipal. O Hildo do Candango tem uma larga experiência na política, é do Entorno, conhece todo o estado e foi definido pelo presidente nacional, mas deixando bem claro que esse nome foi definido para que possamos criar estratégias tanto para o município como também para o estado.Mas quem define a distribuição de recursos de campanha, por exemplo, é o diretório estadual.Passa pelo municipal também. E tem também sempre o nosso presidente nacional , que coloca as suas questões para colaborar porque o partido não quer perder nenhuma cidade, seja ela qual for. Se tem um projeto, o partido não quer perder. Isso soma muito para o partido, que se torna um pouco maior. O partido é grande quando se trata deputados federais e agora senadores. A visão do nosso presidente nacional é muito ampla, tanto que trabalha a campanha municipal já pensando e tratando uma linha para a eleição estadual. Se eu tiver condições de vir à reeleição, o partido vai dar todo apoio. Se não tiver, não vai. Estou ciente disso. Por isso eu trabalho para que tenha condições.Mas esse “se”, essa dúvida, já não mostra desconfiança do partido?Não vejo assim. Nós temos ainda um ano e meio pra fazer o trabalho. E nós já estamos trabalhando há dois anos. Eu não estou deixando para trabalhar no final do mandato para a campanha. Já venho trabalhando desde o início.Mas isso não se reverteu em popularidade e aprovação de governo.Não significa nada. Temos grandes exemplos de homens públicos que começaram a sua campanha com 3% e depois viraram a eleição e ganharam. Questão de imagem, questão de número, porcentual não significa nada. O importante é quando chega no final e abrir as urnas.O Hildo falou também que é católico e existe uma intenção do diretório nacional de distanciar a igreja Universal do partido. O que acha?Primeiro que o partido nunca foi a Universal. O partido tem membros da Universal, como outros partidos têm, e tem membros de outras igrejas evangélicas. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Universal é uma instituição religiosa e o partido é uma instituição política. A gente não pode misturar as coisas. O presidente nacional é bispo da Igreja Universal licenciado, como eu sou pastor. Mas as demandas políticas são diferentes. Dentro do partido, há católicos, como o Hildo, espíritas e evangélicos de outras igrejas. Temos 41 deputados federais, se 12 são membros da Universal são muito. No início do partido, existiam, sim. A direção tomou a decisão de que, quem fosse da Universal e fosse para a política, deveria ir para o partido. Mas isso foi lá atrás, há muitos anos. Agora existem membros da Universal que são de outros partidos. João Campos, que era presidente, é da Assembleia de Deus. O presidente nacional, que é muito pragmático, deixou bem claro: “Lá no Estado de Goiás, eu quero dois deputados federais e três estaduais, ponto”. Quem entregou, beleza, mantém. Quem não entregou, ele vai trocar. Isso foi em 14 estados.E o que acha do pragmatismo dele em relação à campanha em Goiânia?Tive reunião com ele e a primeira coisa que perguntei: Qual é a intenção do senhor em Goiânia? Ele disse: “Você é prioridade. E é você que tem que ser viabilizar, você é o prefeito, você é o gestor”.O viabilizar é o quê? Popularidade, aliança, aprovação, intenção de voto?O partido estuda números. Se os números, até ao final de 2023, forem aptos ou me derem condições. Ou na visão do partido eu tiver condições, a gente lança.E conta com o apoio do governador Ronaldo Caiado?Com certeza. Não tenho dúvida. O governador tem sido parceiro sempre do poder público municipal e não vejo por que dizer que não tem apoio. Eu o apoiei para o governo do estado. Todos sabem como sempre foram as campanhas ao governo em Goiânia e dessa vez ele se superou em Goiânia. Tivemos um trabalho em conjunto e continuamos trabalhando juntos. Eu acredito que o governador tem essa mesma visão. Se Rogério se viabilizar, eu estarei com ele. Se não, não vou colocar meu nome, como o partido também não.Outra coisa que Hildo falou foi que o senhor errou na estratégia da campanha da Thelma Cruz para deputada e que isso foi muito ruim para o partido e para sua gestão. O que acha?Eu não vejo da forma como ele falou ou como outros têm visto. A Thelma tem o trabalho dela como primeira-dama, que é normal. Já aconteceu em outras gestões a esposa não ser eleita. Isso é normal e não significa erro de trabalho. Pode acontecer, sim, questões estratégicas. Nós estávamos confiando numa maneira de trabalho e fomos por outro caminho, de forma estratégica. Mas a Thelma tem o trabalho dela, é um trabalho separado. Ela não usa a prefeitura para isso. O natural dela é estar perto das pessoas, fazer ação social. Eu já a conheci assim.Mas a primeira-dama usou agenda e programas da Prefeitura na campanha.Era como primeira-dama, não para campanha. É diferente. Eu jamais poderia ou gostaria de usar a máquina. Eu não cairia nesse erro. Poderia cair nele e ficar tudo bem e ela ser eleita, mas eu não me sentiria bem em usar a máquina pública para eleger a minha esposa. Isso eu jamais faria. E não fiz. As agendas em época de campanha eram de primeira-dama.Sobre o comentário de Jovair Arantes, de que existiam muitos “prefeitinhos” em Goiânia, o sr. disse à CBN que as decisões do Executivo sempre foram suas. Então o senhor discorda da fala dele?Não é que eu discordo. Quando ele fala que existiam prefeitinhos, se resume na interpretação mesmo que eu falei: eram vereadores que chegavam, tinham ideias e passavam essas ideias. Agora quem executa as ideias sou eu, o prefeito. O termo que usou foi dele, agora a interpretação também foi dele. Mas quem ouve também tem suas interpretações. A minha interpretação é de que ele falou no sentido de vereadores ou algumas pessoas chegarem até o Executivo e passarem ideia e dizer: “acho que isso tem de ser executado”. E quando eu não executo, a pessoa reclama, fala que erramos, e começam os burburinhos de que o prefeito não quer fazer, e aí cria-se essa palavra prefeitinho. Acho que foi esse o entendimento do Jovair. Por exemplo, vetos de projetos. Eu só veto se a procuradoria vetar e eu exijo justificativa.É comum toda gestão ter um grupo, que é o núcleo duro da gestão, formado por pessoas de confiança, que definem os rumos do governo, em questões políticas e administrativas. Fala-se muito que as decisões hoje são tomadas pelo senhor e pelo Firmino. Não há esse grupo?Todo secretário nosso tem livre arbítrio para apresentar projeto e trabalhar. Quem eu tenho do meu lado? Secretários, que apresentam e executam projetos, e o meu grupo, que é o mesmo que eu trouxe da Câmara. É o Firmino; dr. Rayssa Melo, chefe da Casa Civil; Hernani Sousa, secretário-executivo do nosso gabinete; Dr. Lucas, assessor do gabinete; Dr. Gustavo, da Casa Civil também; Dr. Valter Sanches, que é o sub da Casa Civil. É o grupo que eu tenho. Foi formado lá na Câmara, há 13 anos. É claro, se tenho algo a definir e tenho quaisquer dúvidas, vou sentar com as pessoas que vêm comigo há 13 anos. E eu chamo secretários também para participar. Eu ouço secretários, ouço servidores. Eu ouço a todos. A maneira como vou ouvir e pôr em prática, depende de mim.O senador Vanderlan Cardoso disse que a bancada já não quer mais reservar emenda para Goiânia porque não são executadas. O sr. tem receio de perder recursos?Tenho respeito pelo senador, mas quem fala em nome da bancada é a deputada Flávia Morais, que é a líder. Tive vários encontros recentes com ela e nunca me falou isso. As emendas do governo federal têm trâmite diferente e levam tempo. Sobre a emenda que ele apresentou, ela é de 2019, mas só houve repasse em 2021 e vamos lançar em breve a ordem de serviço.Ele também falou que faltam ações para resolver os problemas na gestão e obras paradas.Obras paradas temos há quase dez anos. E ele não pode comparar o trabalho que fez em Senador Canedo, que é uma cidade pequena, com a capital, que tem 1,5 milhão de habitantes. É diferente. Se existe já plano de drenagem em Goiânia, eu queria ver. Na Prefeitura não consta. Tivemos reunião esta semana com o Sinduscon e ninguém falou que existia. E eles conhecem Goiânia, aliás muito mais do que eu porque são construtores. Eles conhecem Goiânia piso a piso, passo a passo, ponta a ponta. Se tinha por que já não executaram?Acha que o senador está antecipando a campanha de 2024?Acredito que sim. Ele já falou em entrevistas que tem interesse, mas agora fala que não tem. Mas o senador, você sabe, ele sempre participou de todas as campanhas.Em balanço de dois anos da sua gestão, qual foi o maior acerto e o maior erro?Um dos maiores projetos da nossa gestão foi na área social. Lançamos o Renda Família e ampliamos para o Mais Mulher, criamos o IPTU Social e ampliamos o valor. No contexto da pandemia, esse lado social é muito relevante. Ainda vivemos resquícios da pandemia, com o desemprego e pessoas que perderam familiares. Prometemos na campanha, com o saudoso Maguito Vilela, entregar as obras não concluídas nas gestões passadas. Entregamos a maioria. Vamos entregar a Praça do Trabalhador no início de maio e o BRT em julho.E o erro?Tivemos que assumir o cronograma do BRT e acho que ficou muito ruim porque a Praça Cívica ficou para o final e isso gerou muito transtorno para a gestão. Mas estamos trabalhando para que termine o mais breve possível.Leia também:- Paço anuncia licitação de trecho paralisado do BRT em Goiânia- Jovair afirma que Paço tinha “prefeitos demais”- ‘Auxiliares de Rogério passam mais tempo fazendo fofoca do que trabalhando’, diz Policarpo