Fabiana Pulcineli

Arroubos de Mabel

O tom mais agressivo e cenas consideradas populistas do prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), nas redes sociais são ineficientes do ponto de vista de resultados e equivocados como estratégia de comunicação, na visão de especialistas em políticas públicas e em marketing político. Mabel provocou polêmica no domingo (23) ao publicar vídeo com broncas a trabalhadores no Bairro São Francisco por conta de <a href="https://opopular.com.br/politica/mabel-diz-que-cobranca-da-taxa-do-lixo-deve-ficar-para-depois-de-abril-1.3234695" target="_blank">lixo no espaço público</a>.

<a href="https://www.whatsapp.com/channel/0029Va9rbSgCHDyl4gQj7A1C" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px; background-color: rgb(238, 238, 238);" target="_blank">🔔 Siga o canal do O POPULAR no WhatsApp</a>

Nesta segunda-feira (24), ele também foi alvo de críticas por vídeo em que interrompe o trânsito na Avenida T-63 para recolocar tampa em esgoto e pede para a população seguir o exemplo. Pela manhã, em entrevista à repórter Eliara Salla, da CBN Goiânia, Mabel defendeu seu comportamento, que chamou de “meu estilo”, e sinalizou que não mudará a atuação nas redes, minimizando a repercussão negativa.

A forma de abordagem aos cidadãos nas ruas já havia provocado polêmica em semanas anteriores, quando Mabel deu bronca em um homem flagrado tentando descartar um sofá em terreno baldio e ao fazer exigências sobre o recolhimento de lixo para flanelinhas baseados na Praça Tamandaré (veja quadro).

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/politica/mabel-diz-que-cobranca-da-taxa-do-lixo-deve-ficar-para-depois-de-abril-1.3234695" target="_blank">Mabel diz que cobrança da taxa do lixo deve ficar para depois de abril</a> 
<a href="https://opopular.com.br/politica/mabel-quer-modelo-de-gest-o-compartilhada-em-secretaria-1.3233867" target="_blank">Mabel quer modelo de gestão compartilhada em secretaria</a> 
<a href="https://opopular.com.br/politica/mabel-rejeita-problema-com-uso-de-carro-oficial-por-secretaria-em-anapolis-1.3232569" target="_blank">Mabel rejeita problema com uso de carro oficial por secretária em Anápolis</a></div>

Focado em defender a limpeza da cidade, o prefeito tem usado camiseta com pedido de descarte adequado e realiza vistorias em bairros que já tiveram benefícios dos mutirões. Essa “supervisão” é feita de cima de uma caminhonete com carro de som, quando Mabel passa distribuindo advertências e pedidos de recolhimento do lixo a moradores e comerciantes.

Foi numa dessas passagens que ele desceu do veículo para bater-boca com o dono de uma distribuidora. “Se não fizer (limpar a calçada), eu te multo uma vez e te fecho na segunda”, diz Mabel, falando no microfone e expondo a imagem do homem. Em outro momento, ameaça recolher o caminhão de outro homem se ele não recolhesse o lixo imediatamente.

Especialistas ouvidos pelo POPULAR e pela CBN Goiânia são unânimes em afirmar que a presença do prefeito nas ruas é positiva, especialmente após os problemas da gestão de Rogério Cruz (SD), mas que não é papel dele dedicar tanto tempo a esse tipo de agenda. Menos ainda agir com truculência ou “lacração”.

Pesquisador do Núcleo Goiano do Observatório das Metrópoles e doutor em desenvolvimento econômico, Marcos Haddad diz que o comportamento do prefeito é autoritário e provoca raiva nas pessoas em vez de conscientizá-las. Para ele, o problema do lixo nas ruas é cultural e o mais o adequado seria promover campanhas publicitárias, além de iniciativas na educação.

“O prefeito não tem de sair botando o dedo na cara das pessoas. A sociedade não gosta disso. Soa como populismo, como coisa de quem quer mostrar quem manda. Isso não tem efeito, ao contrário, vira chacota”, diz, para acrescentar: “O convencimento se dá pela associação do lixo com alagamento e enchentes da cidade, com epidemias, com aumento da dengue. Também é preciso mostrar que lixo é dinheiro, que pode ser reaproveitado, que é preciso separar adequadamente o seco do molhado, descartar de forma correta. Isso, sim, dá efeito em qualquer lugar do mundo”.

O pesquisador cita ainda a importância de reforçar convênios com cooperativas de reciclagem, aumentar o número de lixeiras e da frequência das coletas, e divulgar serviços como Cata-Treco, que recolhe gratuitamente móveis, eletrodomésticos e outros objetos inservíveis das residências. “É o tipo de serviço que quem paga imposto gosta de receber. E muita gente desconhece”, diz.

Haddad também critica um ponto que repercutiu nas redes sociais: a impressão de que o prefeito age de maneira mais agressiva com pessoas mais humildes e de bairros da periferia. “As pessoas começam a questionar: ele só está indo para cima de pobre? Ameaçou fechar algum estabelecimento de bairro nobre? Ou só o senhor que está lá protegido por grades com medo da violência é alvo?”, afirma, em referência ao homem da distribuidora.

O pesquisador e professor de Comunicação e Marketing Marcos Marinho também aponta o “sentimento de revolta” de parte da população diante da exposição e da forma de abordagem. O cidadão que se sente humilhado, que sofre pressão coercitiva dessa maneira, com exposição em mídias sociais, tende a achar que o tratamento é diferenciado”, afirma.

Marinho classifica Mabel como um “João Doria mais agressivo”, em referência ao ex-governador de São Paulo. “Toda essa bravata não leva a lugar algum. O risco é essa brincadeira terminar igual ao próprio João Doria, não ter futuro.”

O professor também destaca que, passado o período de maior “paciência” do eleitor com a gestão - o que normalmente ocorre após os cem primeiros dias -, a população começará a cobrar políticas públicas e planejamento de questões mais complexas da cidade. “Essa ação de zeladoria é algo muito pequeno, do varejo. Ficar o tempo todo catando lixo, tampando bueiro, não é papel do prefeito. Ele tem de mandar fazer, tem de reforçar a fiscalização, mas tem de mostrar que pensa a cidade além disso.”

O mestre em Arquitetura e Urbanismo e especialista em Planejamento Urbano e Ambiental Gerson de Souza Arrais Neto pondera que de fato a população goianiense está mais desinteressada em cuidar da cidade, como reflexo dos problemas administrativos da gestão anterior, e que Mabel demonstra interesse em resolver o problema, mas considera que o prefeito utiliza “força arbitrária”. “Quando ele vai para a rua com microfone, expondo as pessoas, está agindo como um youtuber, que parece querer inflar a sua própria personalidade, mostrar força, mostrar quem manda. Ameaçar fechar, tomar caminhão. É um xerife. As instituições não funcionam assim”, disse, em entrevista à CBN Goiânia.

Para Arrais Neto, reverter a falta de cuidado do goianiense com a cidade é um processo lento, que envolve educação ambiental, conscientização e diálogo. Ele também destaca que não é função do prefeito tomar a frente de fiscalização nos bairros. “Esse papel é da fiscalização. O prefeito deveria contratar gente, equipar, instrumentalizar essa fiscalização para ser eficiente e colocá-la para trabalhar.”

O advogado e especialista em Direito Administrativo Juscimar Ribeiro disse ao Plural, na CBN Goiânia, que a exposição midiática de trabalhadores que são alvos da bronca do prefeito configura abuso de autoridade. Segundo ele, uma suposta irregularidade cometida pelos cidadãos tem de ser alvo de processo adequado na administração municipal, com oportunidade de defesa e rito legal. “Seria mais produtivo e eficiente ter o prefeito em planejamento de ações de governo mais eficientes e menos midiáticas”, afirma.

A oposição em Goiânia aproveitou os desgastes provocados pelos vídeos para fazer críticas nas redes sociais. “Tigrão com a população, com o pequeno comerciante, e tchutchuca com os políticos que atrasam a cidade. Quero ver pegar vereador pelo braço. O inimigo da cidade não é a população”, postou o ex-deputado estadual Fred Rodrigues (PL), que disputou a eleição com Mabel no segundo turno.

O deputado federal Gustavo Gayer (PL) disse que o prefeito intimida pessoas humildes e questionou se faria o mesmo em bairros nobres.

<div attr-cid="policy:1.3234710" attr-version="policy:1.3234710:1740448026" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.3234710" data-onecms-type="article" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.3234710', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.3234710">Arroubos de Mabel (1.3234710)</a></div>

Tom de Mabel é ineficiente e equivocado, veem analistas

Política

Política - título

Assine - Offers Target - 2

Matéria - Política

Prefeitura de Goiânia

O Prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), confirmou, nesta segunda-feira (24), que há possibilidade de atraso no início da <a href="https://opopular.com.br/cidades/taxa-do-lixo-n-o-pode-ser-cobrada-na-integralidade-sem-regularizac-o-de-aterro-diz-promotor-1.3226760" target="_blank">cobrança da taxa do lixo,</a> que estava prevista inicialmente para abril. Mabel afirmou que a cobrança depende de adequação no sistema da Prefeitura com o da Saneago (a taxa será incluída na conta de água) e que a área de informática da Prefeitura “é um caos total”. O prefeito disse que foi feito um pedido ao Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM-GO) para a compra emergencial de um novo equipamento. Segundo ele, a Prefeitura “a qualquer momento, pode parar”.

<a href="https://www.whatsapp.com/channel/0029Va9rbSgCHDyl4gQj7A1C" style="color: rgb(0, 85, 128); outline: 0px; outline-offset: -2px; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px; background-color: rgb(238, 238, 238);" target="_blank">🔔 Siga o canal do O POPULAR no WhatsApp</a>

Apesar de reclamar das condições do sistema, Mabel minimizou os efeitos relacionados à <a href="https://opopular.com.br/politica/comiss-o-para-regulamentar-taxa-do-lixo-e-criada-1.3223368" target="_blank">taxa do lixo</a>. “Se for um mês depois também, não é uma coisa que talvez seja de uma emergência tão grande. Precisa fazer bem feito”, disse.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/politica/comiss-o-para-regulamentar-taxa-do-lixo-e-criada-1.3223368" target="_blank">Comissão para regulamentar taxa do lixo é criada</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/taxa-do-lixo-n-o-pode-ser-cobrada-na-integralidade-sem-regularizac-o-de-aterro-diz-promotor-1.3226760" target="_blank">Taxa do Lixo não pode ser cobrada na integralidade sem regularização de aterro, diz promotor</a> 
<a href="https://opopular.com.br/opiniao/coluna-giro/taxa-do-lixo-de-goiania-e-alvo-de-nova-ac-o-judicial-1.3227497" target="_blank">Taxa do lixo de Goiânia é alvo de nova ação judicial</a></div>

A criação da taxa do lixo em Goiânia foi proposta inicialmente pelo prefeito Rogério Cruz (SD), mas não avançou na Câmara. Quando Mabel foi eleito, iniciou articulação pela aprovação da matéria ainda em 2024. Após articulações políticas, Cruz decidiu sancionar a matéria durante seu mandato. A segurança jurídica da cobrança da taxa em 2025 dependia da publicação da lei no ano passado, em respeito aos princípios da anualidade e da noventena.&nbsp;

Mabel diz que cobrança da taxa do lixo deve ficar para depois de abril

O Popular