A força da máquina pública do governo de Goiás, a conquista dos votos de candidatos derrotados no primeiro turno e o desgaste do adversário, Fred Rodrigues (PL), na reta final da campanha são fatores que, para os cientista políticos consultados pela reportagem, contribuíram para a vitória de Sandro Mabel (UB) na busca pela Prefeitura de Goiânia.Mabel disputou a eleição com o governador Ronaldo Caiado (UB) como seu principal cabo eleitoral na disputa. No primeiro turno, o prefeito eleito teve 190.278 votos. No segundo turno, Mabel teve 353.518 votos, o que representa 163.240 a mais. Por outro lado, Fred recebeu 68.801 a mais do que no primeiro turno da eleição, alcançando o total de 283.054 votos.O cientista político Pedro Célio Alves Borges afirma que, conforme detectado por pesquisas, a vitória de Mabel pode ter sido influenciada pela transferência de eleitores da deputada federal Adriana Accorsi (PT). A petista foi derrotada no primeiro turno, quando ficou em terceiro lugar na disputa, com 24,44% dos votos válidos (apoio de 168.145 eleitores). Accorsi não declarou voto abertamente a Mabel e, por diferenças ideológicas, o grupo governista também se esforçou para manter distância do PT. Ao mesmo tempo, Mabel modulou o discurso afirmando que gostaria de ter apoio de todos os eleitores, independentemente de em qual candidato eles votaram na primeira fase da disputa.Para o cientista político Guilherme Carvalho, destaca-se o fato de que os votos de candidatos derrotados foram conquistados “sem aquela famosa declaração de apoio”, principalmente de Adriana. Outro ponto mencionado é o desgaste que Fred sofreu nas últimas semanas de eleição. Em ação judicial movida pela coligação de Mabel, a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) informou que Fred não concluiu o curso de Direito, ao contrário do que o candidato havia informado em sua declaração à Justiça Eleitoral. Além disso, Fred tomou posse em diretoria da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) que exigia curso superior. Ao responder às críticas, a questão foi tratada por Fred como erro de sua assessoria. Na sexta-feira (25), o deputado federal Gustavo Gayer (PL), um dos principais cabos eleitorais de Fred, foi alvo de mandado de busca e apreensão da Polícia Federal no âmbito de investigação sobre desvio de cota parlamentar.Borges analisa que o desgaste de Fred contribuiu para o resultado da eleição. “Pelo menos inibiu a aproximação de Fred a um outro tipo de eleitor, que não é alcançado na disputa ideológica. Esse tipo de eleitor vota por diferentes motivos, ele observa campanha eleitoral, vê um ou outro ponto dos programas dos candidatos, simpatiza e vota”, afirma Borges. Para Carvalho, o trabalho de marketing de Mabel foi eficiente para desconstruir a imagem de Fred, especialmente na reta final. Diante da abstenção de 34%, o cientista político Itami Campos afirma que a campanha terminou focada na disputa política dos candidatos, com as propostas relacionadas à cidade em segundo plano. “Isso, de certa forma, desestimula muita gente a ir votar. Não tem um debate mais real e concreto do que deve ser feito para Goiânia. Ficou muito mais político, no sentido das candidaturas de forma pessoal”, afirmou Campos. NacionalPara os especialistas, o resultado da capital - somado à vitória de Leandro Vilela (MDB) em Aparecida de Goiânia - demonstra a força de Caiado em Goiás, mas ainda há dúvidas sobre o impacto do cenário local na pretensão do gestor de se candidatar à Presidência da República em 2026. “Ele (Caiado) teve êxito nessa campanha eleitoral porque demonstrou força no seu quintal. Ele tem pretensão de voo nacional. Uma derrota para ele aqui cortaria suas asas. Pelo menos para este momento, ele ganha um fôlego grande para ficar nas fileiras de alternativas que a extrema-direita ou a direita toda vai querer criar para 2026”, afirma Borges.Para Carvalho, as vitórias em Goiás têm pouca representatividade para Caiado na busca pela presidência. O especialista afirma que o cenário nacional do União Brasil (conquistou 583 prefeituras, o quarto melhor resultado do país) e a manutenção do compromisso do partido com seu projeto são fatores mais relevantes para o governador. Carvalho destaca o alto custo para o União Brasil bater o martelo sobre a candidatura, como a saída do governo federal (tem três ministérios) e possível retaliação relacionada a repasse de verbas às prefeituras. “Ronaldo Caiado é o maior cabo eleitoral deste estado, mas é algo muito local. Se Caiado quiser ser um candidato viável à presidência, ele vai ter que se manter caminhando entre o centro e a direita, terá de fazer acenos a um público mais à extrema-direita, mas terá de lidar com o principal inimigo, a falta de conhecimento da população a respeito dele. (...) Caiado sai maior, muito vitorioso… em Goiás”, afirma Carvalho.