Dois dos três senadores por Goiás são contra a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado para investigar as denúncias de irregularidades no Ministério da Educação (MEC). Jorge Kajuru (Podemos) assinou o requerimento de abertura da comissão apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP); já Luiz do Carmo (PSC) e Vanderlan Cardoso (PSD) consideram a proposta eleitoreira.Randolfe precisa de 27 assinaturas para apresentar o requerimento de abertura da CPI. Ele chegou a anunciar na sexta-feira (8) que já havia alcançado o número mínimo de subscrições. Porém, durante o fim de semana, a quantidade foi reduzida em três, uma vez que os senadores Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), Styvenson Valentim (Podemos-AC) e Weverton Rocha (PDT-MA) retiraram seu apoio.Randolfe chegou a atribuir o recuo dos três parlamentares a uma “força-tarefa” coordenada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, a fim de barrar a comissão. Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) acreditam que a CPI tem potencial para prejudicá-lo em ano eleitoral.Bolsonaro foi diretamente ligado às suspeitas de corrupção no MEC em 21 de março, quando o jornal Folha de S. Paulo revelou áudio em que o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, diz que sua “prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar”, afirma Ribeiro em outro trecho do áudio.A referência é ao pastor Gilmar Santos, que preside igreja de denominação evangélica com sede em Goiânia, e está no centro das denúncias que envolvem também o pastor Arilton Moura. Apesar de não ter cargos no governo, os dois participaram de várias reuniões com autoridades nos últimos anos e prefeitos relatam terem recebido pedidos de propina para ajudar na liberação de recursos do MEC. Ribeiro deixou o MEC uma semana depois da divulgação do áudio.As pressões do governo para barrar a CPI teriam como base as chamadas emendas de relator, conhecidas como orçamento secreto, que levam esse nome porque é uma modalidade de emendas em que parlamentares indicam o uso de recursos dos ministérios sem critérios claros sem divulgação de quem fez as indicações.Ao POPULAR, Kajuru afirma que “o governo tem atuado pesado para impedir (a CPI)”. “Quando o governo consegue tirar a assinatura de três (senadores), é sinal de que pode conseguir tirar mais, mas acredito que nesta semana a gente consegue as assinaturas. O presidente (da Comissão de Educação) Marcelo Castro (MDB-PI) já disse que, se tiver faltando apenas uma, ele assina.”Sobre seu apoio à comissão, Kajuru diz que não tem objetivo político. “Tenho que fazer uma investigação profunda, sem revanchismo e mexendo com os tubarões sobre (um caso de) corrupção clara que começou no FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).”ContraJá os senadores Luiz do Carmo (PSC) e Vanderlan Cardoso (PSD) são contrários à instalação da CPI. “Essa CPI é política. Querem sangrar o presidente, que não tem nada a ver com isso. Nem o ministro. Foi um pastor oportunista vendendo (facilidade) para prefeito que não sabia de nada”, argumenta o primeiro.Para Luiz do Carmo, as denúncias precisam ser apuradas pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF). “Isso é coisa do pastor (Gilmar Santos) e do auxiliar dele (Arilton Moura). Isso é caso de polícia e não de CPI. Não envolveu parlamentar. Por que vamos entrar nisso?”Questionado, porém, se o Legislativo não tem o dever de fiscalizar o Executivo, o senador afirma que a denúncia de corrupção no MEC “é muito pequena”. “CPI é para coisa mais grave. As pessoas estão com medo de enfrentar o presidente Bolsonaro no voto normal. Tem que deixar o Brasil andar. Se haver uma CPI, vai parar o Brasil de novo.”Luiz do Carmo se encontrou com o ministro Ciro Nogueira na semana passada. Perguntado se falaram sobre a proposta de CPI, ele nega. “Fui tratar de questões do Senado Federal. Ele é um ministro. Fui para destravar coisas em Goiás. Liberar emendas. Prefeitos estão precisando de dinheiro.” Não detalhou os objetos das emendas e nem sua modalidade.Vanderlan, por sua vez, classifica a proposta de CPI como eleitoreira. “Tem que ser apurado, e já está. A Polícia Federal, a CGU (Controladoria-Geral da União) já estão apurando, e já está bem adiantado. Não precisa fazer estardalhaço com CPI. O que deu de concreto a CPI da Pandemia? Faz depois da eleição.”O senador Randolfe Rodrigues, autor do requerimento da CPI, não atendeu às ligações da reportagem.-Imagem (Image_1.2436727)-Imagem (Image_1.2436725)