Vereador de Fazenda Nova, Goiás, Maycow Douglas (Cidadania) assumiu ao POPULAR que vendeu a empresa Inovação Distribuição e Comércio, vencedora de licitação da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). No entanto, não quis responder às outras perguntas e desligou. A empresa em questão está no nome do autônomo Samuel Paz Maia Soares que, como o jornal Estadão mostrou na semana passada, foi beneficiário do auxílio emergencial para pessoas de baixa renda até junho de 2021. Apesar do nome de Soares estar nos registros oficiais, quem atende o telefone registrado da empresa é o vereador. Ao Estadão, o autônomo disse que já trabalhou em mecânica, borracharia, na prefeitura de Fazenda Nova e fez bicos. Em um desses bicos, ele teria recebido uma comissão em dinheiro vivo de cerca de R$ 600 mil pela corretagem na venda de uma fazenda. Porém, Soares declarou não se lembrar do nome do dono da propriedade que lhe pagou. Afirmou que a maior parte desse valor “investiu” na compra da empresa. “Entrei com o dinheiro, o rapaz entrou com o serviço.” O “rapaz” a que se refere é o vereador goiano.O político trabalha para a Inovação em Brasília. Ao Estadão, Maycow Douglas disse que também já foi proprietário da Inovação, mas não respondeu se vendeu a empresa e se teria recebido valores.O POPULAR ligou no telefone que aparece nas buscas pela Inovação na sexta-feira (22), quando Douglas atendeu. Perguntado pelo proprietário, o vereador disse que ele não estava. Depois se identificou e negou que estava à frente da empresa. “Não (estou à frente da empresa). Eu vendi, né? Por que a pergunta?”, respondeu. Ao ser informado de que se tratava de uma reportagem, desligou e não atendeu mais. Apesar de ter assumido a venda da empresa, o vereador, em 2020, quando foi candidato ao Legislativo de Fazenda Nova, não a registrou em seus bens. Inclusive, no portal de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é possível acessar o documento da sua declaração de bens, quando declarou somente R$ 4 mil em espécie. No pleito de 2020, segundo os dados eleitorais, Douglas recebeu 153 votos e gastou R$ 12,3 mil com a campanha. Este é o primeiro mandato do vereador, nascido em São Luiz dos Montes Belos, que também disputou o cargo em 2016, mas só conseguiu a suplência. ContextoA Inovação é uma sociedade empresária limitada, aberta em fevereiro de 2020, que tem como atividade econômica principal o comércio varejista especializado de equipamentos e suprimentos de informática. Entre as suas atividades secundárias, está o comércio a varejo de automóveis, camionetas e utilitários novos.Foi com essa atividade que a empresa venceu, em dezembro do ano passado, dois lotes de licitações da Codevasf para venda de caminhonetes 4 x 4. O órgão federal emitiu, então, um empenho (reserva de recursos) em nome da empresa no valor de R$ 10,2 milhões. Além da Inovação, outras duas empresas goianas que venceram licitações da Codevasf têm proprietários que foram beneficiários do auxílio emergencial para pessoas de baixa renda. No total, foram R$ 19,3 milhões reservados para pagar essas empresas.As três empresas possuem o mesmo contador e seus donos ou endereços estão vinculados à Fazenda Nova, cidade de 5 mil habitantes a cerca de 200 quilômetros de Goiânia. É o caso da BR-Prime Comercial e Serviços. A proprietária com o nome registrado, Maria Cristina Ribeiro da Silva assumiu, ao Estadão, ser laranja. Ela disse que é cabeleireira e emprestou seu nome para Bruno Araújo Navega abrir a BR-Prime. Navega também já foi sócio da Inovação.A terceira empresa envolvida é a Horus Comercial e Serviços. A empresa está em nome de Hugo Dellion Carlos Damas, nascido em Fazenda Nova. Ele recebeu auxílio emergencial até outubro de 2021. No pregão, Damas está registrado como empresário. Em 2018, no entanto, ele entrou com uma ação trabalhista. Seu advogado, Ronaldo Lamonier, afirmou ao Estadão que, na época, o cliente era trabalhador rural, sem recursos para abrir uma empresa.A partir das concorrências para a compra dos veículos, a Codevasf emitiu ata de registro de preços para fornecimento de caminhonetes para os escritórios da estatal no Distrito Federal, no Tocantins e em Goiás. O governo pode comprar até 180 unidades. Foram adquiridos até agora quatro carros da Inovação e da BR-Prime. Ao Estadão, a Codevasf informou que a BR-Prime entregou um veículo e a Inovação, três, mas ainda não houve pagamento. A estatal disse que “não houve inconsistências” na licitação. “As contratações observam rigorosamente as disposições da legislação em vigor.” O POPULAR tentou falar com os supostos proprietários das outras empresas goianas citadas, mas não obteve sucesso até o fechamento desta edição.