Fui a um show do Paulinho Moska, de quem gosto. Poeta sensível, nos convida a examinar o presente com carinho, e isso soa revolucionário num mundo deprimido pelo passado e angustiado com o futuro.
"Vou viajando nesse pensamento
Vivendo a mágica da sensação
Que faz do efêmero desse momento
Instante eterno livre da razão"
Lá pelas tantas ele tocou Tudo que Acontece de Ruim É pra Melhorar, canção cuja letra flerta com uma autoajuda de livraria de aeroporto, sem contudo prescindir da beleza.
"E tudo que foi dor um dia
Noutro dia será dia de continuar
Caminhando sob o sol
Até o amor se reinventar"
Concordo com a capacidade do amor de nos redimir da miséria da existência, então bailei, de olhinhos fechados e tudo. Mas algo no discurso dele, dito logo após a música, me soou como pregação de coach, a quem responsabilizo pela epidemia de insatisfação dos dias de hoje. Moska disse que a vida é um eterno melhorar. Será?
Não falo aqui do desejo genuíno de aprimorarmos aquilo que, vindo de dentro, nos eleva para fora. Também não há sentido aparente na vida e, diante da confusão em que nos meteram, o mais humano que podemos fazer é não piorar o caos do outro. Portanto, melhorar é um imperativo moral.
Estou severamente cansado, porém, do culto ao apetite desmedido pela falsa glória. Melhorar, na lógica do capital, é nunca encontrar o fastio. Jamais, numa bela manhã, sentar-se à cama ao acordar e concluir, exultante: rensga, tenho tudo o que preciso para ser feliz!
Os coachs e demais hordas de conselheiros digitais fazem fortuna alimentando uma ideia torta de insignificância. É um discurso que, repetido à exaustão, nos cega para a beleza do que já temos. Quantas vezes, ao olhar para trás, sinto ternura de momentos bonitos, para os quais não prestei atenção porque estava ocupado perseguindo coisas inúteis?
Reconheço: como estratégia de negócio, a ladainha deles funciona muito bem. Temos milhões de pessoas realmente com muito pouco. O problema aqui é que, mesmo ascendendo socialmente, nunca se darão por satisfeitas. Esse papo de melhorar é uma armadilha que, como diz o Pepe Mujica, caímos entregando o bem mais precioso e menos renovável, que é o nosso tempo.
Sem falar que esse estado de insatisfação metodologicamente cultivado cria terreno fértil para discursos populistas, de quem não tem alternativa para oferecer fora da retórica de violência. Em vez de explicar por que muitos sofrem para que poucos se esbaldem, vendem a ideia da saída individual para problemas estruturais, como se alguém, sozinho, pudesse ser produzir mais do que uma mera exceção num sistema doente.
Às vezes, mirando as jiboias e peperômias com galhos pendentes aqui em casa, sinto inveja daquela sabedoria vegetal, feita do máximo de dignidade extraída do mínimo recurso - visto que sou um mau cuidador de plantas. Deve haver um jeito de nós encontrarmos aquela paz também. Não é inteligente prolongarmos a angústia do querer ao infinito.
Então, Moska, desculpa aí. Vou seguir melhorando para não ter mais de melhorar um dia.