Mensagens apreendidas no celular de Léo Pinheiro, ex-presidente e sócio da OAS, e divulgadas pela revista "Veja" nesta sexta (19) revelam detalhes da participação da empreiteira nas reformas feitas no tríplex em Guarujá e no sítio em Atibaia, ambos ligados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.O envolvimento de empreiteiras nas obras do sítio e do tríplex é investigado pela força-tarefa da Operação Lava Jato. Léo Pinheiro já foi condenado a 16 anos de prisão por participação no esquema de corrupção na Petrobras.Segundo a "Veja", os policiais acreditam que "chefe" e "madame" são, respectivamente, Lula e sua mulher, Marisa Letícia, na troca de mensagens sobre projetos de cozinha.Em 12 de fevereiro de 2014, Paulo Gordilho, diretor da OAS, avisa a Léo Pinheiro: "O projeto da cozinha do chefe está pronto. Se marcar com a Madame, pode ser a hora que quiser".O empreiteiro responde: "Amanhã às 19 hs. Vou confirmar. Seria bom tb [também] ver se o do Guarujá está pronto". "Guarujá também está pronto", confirma Gordilho.No dia seguinte, porém, Léo Pinheiro avisa que a reunião foi desmarcada: "O Fábio ligou desmarcando. Em princípio será às 14 hs na segunda. Estou vendo, pois vou para Uruguai". Fábio, segundo as investigações, seria Fábio Luís, um dos filhos de Lula.Em nota, o Instituto Lula já admitiu que o ex-presidente e sua mulher visitaram o tríplex 164A, no condomínio Solaris, acompanhados por Léo Pinheiro. A suspeita é que o apartamento, que está em nome da OAS e foi reformado pela empreiteira ao custo de R$ 777 mil, estaria reservado para Lula. O ex-presidente nega ser dono do imóvel.Lula e Marisa adquiriram uma cota no condomínio em 2005, quando o empreendimento pertencia à cooperativa habitacional Bancoop. A construção do Solaris foi repassada para a OAS em 2009, devido a uma crise da cooperativa.Segundo o Instituto Lula, a cota dava direito a uma unidade comum, mas Marisa perdeu o apartamento ao não decidir, em 2009, se pagaria à OAS pelo imóvel ou se preferia ser ressarcida. Ainda segundo Lula, a família ainda mantinha uma opção de compra no condomínio e, por isso, visitou o tríplex que estava à venda, mas desistiu da compra.As mensagens apreendidas mostram ainda que Léo Pinheiro era informado de detalhes do projeto. Em 21 de fevereiro de 2014, Gordilho lhe escreve: "A modificação da cozinha que te mandei é optativa. Puxando e ampliando para lateral. Com isto fica tudo com forro de gesso e não esconde a estrutura do telhado na zona da sala".Atibaia Registrada em nome de sócios de Fábio Luís, a propriedade rural em Atibaia foi reformada por uma espécie de consórcio informal de empresas -OAS, Odebrecht e pelo pecuarista José Carlos Bumlai- conforme revelou a Folha. As obras começaram em 2010, último ano de Lula na Presidência.A suspeita é que Lula seja o verdadeiro dono do sítio. Só a Odebrecht gastou cerca de R$ 500 mil em materiais para a obra. O ex-presidente afirma que frequenta o local, mas não comenta as reformas.Em março de 2014, Léo Pinheiro recebe uma mensagem de interlocutor não identificado. "Dr Léo, o Fernando Bittar aprovou junto à Dama os projetos tanto de Guarujá como do sítio", diz.Bittar é um dos donos do sítio e mantém uma relação próxima com a família Lula."Só a cozinha Kitchens completa pediram 149 mil, ainda sem negociação. Posso começar na semana que vem. É isso mesmo?", pergunta o interlocutor. "Ok", responde Léo Pinheiro.Segundo a "Veja", documentos da investigação comprovam que as duas cozinhas foram pagas pela OAS a uma loja em São Paulo e custaram mais de R$ 500 mil.Outra troca de mensagens sugere que Léo Pinheiro tenha visitado o sítio. Ele pergunta a um funcionário em 3 de novembro de 2013: " Tem algum aeroporto perto de Atibaia?". Em 7 de novembro, envia mensagem à mulher: "Já estou em Atibaia. Vamos voltar do Rio na segunda, as 10 hs. Tudo bem".Outro ladoProcurada pela Folha, o Instituto Lula informou que não iria se manifestar especificamente sobre as mensagens publicadas pela "Veja" e que os esclarecimentos sobre o tríplex já constam em notas divulgadas anteriormente sobre o tema.Segundo essas notas, um ano depois de concluída a obra do prédio em Guarujá, em 2014, Lula e Marisa Letícia visitaram o tríplex acompanhados por Léo Pinheiro, ocasião em que o imóvel que estava disponível para venda."Lula e Marisa avaliaram que o imóvel não se adequava às necessidades e características da família, nas condições em que se encontrava. Foi a única ocasião em que o ex-presidente Lula esteve no local", segundo a nota."Marisa Letícia e seu filho Fábio Luís Lula da Silva voltaram ao apartamento, quando este estava em obras. Em nenhum momento Lula ou seus familiares utilizaram o apartamento para qualquer finalidade", completou a assessoria do ex-presidente.A Folha não conseguiu localizar a OAS até a publicação desta reportagem.