O acolhimento de 32 pacientes com Covid-19 oriundos de Manaus fez circular a preocupação de que a nova variante do coronavírus Sars-CoV-2 chegasse a Goiás. Autoridades de saúde, porém, acreditam que essa cepa, que está relacionada ao aumento de casos na capital do Amazonas, já está presente em território goiano. A questão é identificá-la.De acordo com a superintendente de Vigilância Sanitária da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES), Flúvia Amorim, é muito provável que a cepa P.1., como é chamada a variante, tenha chegado ao Estado. “Há uma circulação muito grande de pessoas entre as regiões Norte e Centro-Oeste”, lembra.Goiás, inclusive, enviou amostras para os laboratórios que fazem o sequenciamento genético que pode identificar as variantes virais. No Brasil, essa análise é feita no Instituto Adolfo Lutz, localizado em São Paulo, e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Entre as amostras estão as que fazem parte da investigação sobre possíveis reinfecções e também as colhidas de uma família que chegou recentemente da Inglaterra e que testou positivo para o coronavírus. Neste caso, a cepa é chamada de B 1.1.7 (veja quadro).Flúvia Amorim explica que a disputa por espaço entre cepas diferentes do mesmo vírus é comum na natureza. As variantes que têm mais habilidade para se adaptar e contaminar mais hospedeiros podem ser tornar prevalentes. “Se confirmar que ela (a cepa com origem em Manaus) é mais contagiosa, isso é muito sério”, afirma.Hospital das ClínicasSuperintendente do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), unidade que recebeu 18 pacientes de Manaus, José Garcia afirma que a nova cepa está em atividade provavelmente em todos os Estados Brasileiros. Em entrevista na manhã desta quinta-feira (21), ele disse que já ocorre a transmissão comunitária da variante.Segundo Garcia, durante uma reunião com o grupo epidemiológico ligado aos Ministérios da Saúde e da Educação, foi informado de que a variante foi detectada em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Provavelmente, não foi detectada em outros lugares pela a dificuldade em fazer a variante genômica, que não é um exame simples, igual o RT-PCR. que já não é simples. Muitos não detectaram por incapacidade de diagnóstico”, diz.O caso dos próprios pacientes que vieram de Manaus para Goiás é exemplar. As amostras coletadas não atenderam os padrões para o sequenciamento genético. Flúvia Amorim explica que este é um problema nacional. “O Brasil faz muito pouco (o sequenciamento genético), afirma.A SES não informou quantas amostras foram enviadas para o exame de sequenciamento genético. Mas a superintendente de Vigilância Sanitária diz que os critérios para análise sobre a cepa circulante são a origem do doente e a rede de contatos.Goiás espera por doses da ÍndiaO anúncio do Ministério da Saúde de que a Índia liberou um lote de vacinas para o Brasil abriu a possibilidade de que Goiás receba novas doses na semana que vem. O anúncio foi feito na tarde de quinta-feira (21), e a aeronave da Emirates deve pousar no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, na tarde desta sexta-feira (22). De lá, o produto segue para o Aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro, onde fica a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), parceira brasileira do consórcio Oxford/Astrazeneca, que o desenvolveu. Só então as vacinas seguem para o restante do País.A expectativa é de que sejam importados 2 milhões de doses, mas este número pode ser maior. De acordo com o secretário de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, não há, ainda, confirmação do dia de entrega nem da quantidade de doses que caberá ao Estado. No início do mês, quando o governo federal anunciou que importaria as vacinas da Índia, o MS havia informado que seriam 140 mil doses para os municípios goianos, o equivalente a 7% do total. Mas a estratégia teve mudanças após entraves na negociação na semana passada.Sem as vacinas Oxford/Astrazeneca, o Ministério da Saúde adquiriu e distribuiu 6 milhões de doses da Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e, no Brasil, em parceria com o Instituto Butantan. Destas, Goiás ficou com 183 mil, o suficiente para imunizar cerca de 90 mil pessoas, já que cada uma deve tomar duas doses e há uma perda natural de aproximadamente 5%.AfunilamentoCom poucas doses, houve um afunilamento no primeiro grupo a ser vacinado. Assim, estão recebendo o imunizante profissionais de saúde que lidam diretamente com pacientes com Covid-19, idosos e deficientes que vivem em abrigos de longa duração e indígenas. A SES aguarda, agora, a definição, pelo Ministério da Saúde, de quais grupos receberão a vacina Oxford/Astrazeneca que pode chegar na semana que vem.Superintendente de Vigilância Sanitária da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Flúvia Amorim acredita que será possível ampliar a vacinação entre os grupos prioritários. As vacinas disponíveis até agora são suficientes para 34% dos profissionais de saúde e para todos os idosos que vivem em abrigos. Caso chegue o novo lote, profissionais que atuam em unidades básicas de atendimento, como agentes do programa Saúde da Família serão incluídos.Flúvia acredita, ainda, que poderão ser incluídos idosos que não estão abrigados, população ribeirinha e quilombolas. Na edição de quinta-feira (21), O POPULAR mostrou que as comunidades calungas de Cavalcante, no Norte de Goiás, pedem a ampliação da vacinação nesta população. O município recebeu apenas 90 doses, para uma população de 10 mil moradores.Saúde privada quer cronograma de vacinação para trabalhadoresEntidades da saúde privada de Goiás cobram mais clareza sobre o processo de vacinação contra a Covid-19 entre os profissionais da área. Em ofício encaminhado às secretarias de saúde do Estado e de Goiânia nesta quinta-feira (21), representantes afirmam buscar evitar o “uso inadequado da vacina”. O documento foi assinado pela Federação dos Hospitais, Laboratórios, Clínicas de Imagem e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás (Fehoesg), Sindicatos federados e a Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg). As entidades reclamam que a rede privada estaria sendo esquecida. “As 183 mil doses da Coronavac que o Estado de Goiás recebeu são suficientes para vacinar 87 mil pessoas do grupo prioritário, atendendo idosos e profissionais da saúde. Nossos trabalhadores estão na linha de frente do atendimento desde o início da pandemia, por isso, precisamos ter transparência no uso da vacina”, diz Christiane do Valle, presidente da Fehoesg.O primeiro lote de doses, aplicado desde a segunda-feira (18), é destinado aos profissionais da saúde da chamada linha de frente, idosos em instituições de longa permanência, e população com comorbidades que estão entre os principais agravantes em casos de Covid-19. Pelo plano nacional de vacinação, do Ministério da Saúde, todos os “trabalhadores de saúde” devem ser imunizados na primeira fase. Não há, no entanto, um prazo estimado para o fim da etapa. Ministério PúblicoChristiane se reuniu com o secretário da Saúde de Goiânia, Durval Pedroso, que disse que irá comunicar ao Ministério Público sobre a demanda.O pedido será pela organização de um cronograma específico que inclua todos os trabalhadores, como recepcionistas, funcionários de manutenção, enfermeiros e demais áreas. A estimativa da representante é de que, só na capital, sejam 200 mil os trabalhadores da saúde do setor privado. “O paciente da Covid-19 transita desde o laboratório, quando faz o diagnóstico, a até às clínicas de exames complementares, como a tomografia. Todo o segmento está ligado e precisa ser atendido”, diz.-Imagem (1.2185418)