O uso de ivermectina, antiparasitário que mesmo sem nenhuma comprovação científica, está sendo utilizado para o tratamento do novo coronavírus (Sars-CoV-2), pode ter efeitos colaterais. É o que afirma a médica infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Marianna Tassara. “Os efeitos colaterais podem ser febre, alergia, vermelhidão na pele, dor abdominal, hipotensão, taquicardia, diarreia, náuseas, sonolência, edema facial, dentre outros”, aponta a infectologista. Neste domingo (5), 1,8 mil kits de ivermectina foram distribuídos no estacionamento da Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, no Setor Expansul, em Aparecida de Goiânia. A ação vai contra os alertas da SBI e do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Goiás (CRF-GO) sobre o uso indiscriminado de medicação sem a eficácia comprovada para combater o novo coronavírus. O mutirão, realizado por um grupo intitulado Goiânia Frente a Covid-19, ocorreu em sistema de drive thru, com senhas, para pessoas acima de 60 anos ou com problemas de saúde identificados. Cada veículo recebe apenas um kit com 3 cápsulas do medicamento. Tassara explica que não existe nenhuma comprovação científica de que o uso de ivermectina ajuda no tratamento ou prevenção do novo coronavírus. “Os estudos mostram que realmente o remédio tem uma ação antiviral em laboratório. Entretanto, a quantidade usada para matar o vírus é muito grande e poderia fazer mal caso fosse ministrado a uma pessoa. Isso nos leva a crer em uma não eficiência do produto”, esclarece.A especialista conta que a substância já foi estudado no tratamento de outras doenças como a dengue. “Aconteceu a mesma coisa. No laboratório os resultados foram positivos, mas quando testado no ser humano, a resposta não era tão expressiva”, enfatiza. Tassara ressalta que o mesmo que o remédio tivesse ação na diminuição da carga viral, ele não ajudaria no tratamento de casos graves da doença. “Ele não conseguiria ajudar a tratar a resposta inflamatória que o corpo nos casos mais graves por conta do vírus”, pontua. DistribuiçãoUm dos coordenadores da ação feita em Aparecida, o oftalmologista André Luis diz que o grupo Goiânia Frente a Covid-19 conta com a participação de 242 profissionais na capital e mais de 200 no interior. Segundo ele, durante este domingo houve uma distribuição maciça dos kits, com prescrição médica e descrição de como usar. Além disso, um termo de consentimento foi assinado. As cápsulas, de acordo com André, foram doadas por duas farmácias de manipulação.O motorista de aplicativo Kleber Motta Silva, de 51 anos, foi uma das pessoas que recebeu o kit. “Eu acredito que o remédio é benéfico e por isso peguei. Ele pode ter efeito no nosso organismo”, explica o motorista. Entretanto, ele acredita que a prevenção ainda é o melhor remédio. “Temos que nos cuidar, usar máscara e álcool 70% e lavar as mãos. Não dá para facilitar com a doença”, esclarece Kleber. A Vigilância Sanitária de Aparecida de Goiânia informou que foi procurada pelos organizadores do evento e os orientou que a distribuição de medicamentos deveria seguir a prescrição mediante consulta médica. Procurado, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) informou que não irá se manifestar.