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Goiás interrompe repasses às comunidades terapêuticas

Últimos contratos foram encerrados em janeiro deste ano. Especialistas apontam que o momento deve ser de fortalecer investimento na Rede de Atenção Psicossocial (Raps)

Caps AD III Criarte Vida, na Avenida Major Manoel Augusto Silva Brandão, no Setor Parque Veiga Jardim, em Aparecida de Goiânia: unidade funciona porta aberta, ou seja, atende a demanda espontânea

Caps AD III Criarte Vida, na Avenida Major Manoel Augusto Silva Brandão, no Setor Parque Veiga Jardim, em Aparecida de Goiânia: unidade funciona porta aberta, ou seja, atende a demanda espontânea (Diomício Gomes / O Popular)

As comunidades terapêuticas, polêmicas por uma série de denúncias envolvendo maus tratos e cárcere privado, deixaram de ser financiadas pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO). Os últimos três contratos foram encerrados em janeiro deste ano. Entre 2019 e 2023, a SES-GO repassou R$ 6,5 milhões para instituições do tipo. Especialistas consideram os serviços das comunidades inadequados e reforçam que o momento é de fortalecimento dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (Raps). Segundo a SES-GO, os investimentos financeiros na rede aumentaram.

Esta é a primeira de uma série de quatro reportagens preparadas pelo POPULAR para o mês da luta antimanicomial, celebrado em maio. Ao longo dos últimos anos, as comunidades terapêuticas em Goiás protagonizaram diversas notícias. No início de agosto do ano passado, a Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO) desarticulou o funcionamento de uma comunidade terapêutica em Abadia de Goiás. O local abrigava 38 homens, que eram mantidos em cárcere privado.

No final do mesmo mês, duas outras unidades, com quase 100 internos ao todo, foram desarticuladas em Anápolis. Nos locais, pacientes eram vítimas de maus tratos. Ainda no ano passado, o estado registrou mais de um caso envolvendo sequestro e internação forçada em comunidades terapêuticas, sendo que pelo menos um caso resultou na morte do paciente.

A gerente de Saúde Mental da SES-GO, Nathália dos Santos Silva, reforça que nenhuma das comunidades terapêuticas que tinham contratos com a pasta apresentaram episódios de maus-tratos, tortura, sequestro ou cárcere privado. Ela destaca que a decisão de interromper o financiamento das comunidades está alinhada com o posicionamento de conselhos e entidades de classe. "Se queremos aumentar recursos para a Raps, precisamos fazer esse redirecionamento. Recurso público é escasso", pondera.

O tratamento de dependentes ou usuários de drogas é regrado pela Lei nº 11.343, de 2006, que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad). Apesar de a Portaria nº 3.088/2011, do Ministério da Saúde, regrar o funcionamento das comunidades terapêuticas, atualmente, elas são de responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o que especialistas consideram que gera um limbo de políticas públicas.

Para se ter ideia, no final de abril deste ano, o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) publicou uma resolução que dispõe sobre o não reconhecimento das comunidades terapêuticas como entidades e organizações de assistência social e sua não vinculação ao Sistema Único de Assistência Social (Suas). Dias depois, o MDS divulgou nota de esclarecimento detalhando que os financiamentos às comunidades terapêuticas feitos pelo órgão não são via Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e, por isso, o conteúdo da resolução em questão não afeta termos de colaboração, convênios e contratos.

O psicólogo e presidente da Comissão de Saúde do Conselho Regional de Psicologia de Goiás (CRP-GO), Marco Aurélio Lima, considera que as dinâmicas assistenciais das comunidades terapêuticas ferem o código de ética da classe profissional. O profissional participou de uma série de ações fiscalizatórias ocorridas em unidades do tipo nos últimos anos e conta que não foram encontradas gestões compostas por profissionais técnicos, como acontece em outros aparelhos da Raps. "Além disso, verificamos quadros de violência física e psicológica", frisa.

As comunidades terapêuticas se organizam em residências coletivas temporárias, pautadas pelo isolamento e pela abstinência. Lima aponta que isso se mostra pouco eficiente na prática. "Quando a pessoa sai (da comunidade), logo recai. São locais que não trabalham com a política nacional de redução de danos. É preciso pensar nisso, pois nem todas as pessoas vão abandonar completamente o uso de drogas", avalia.

O fim do repasse por parte do governo estadual não impede que os municípios, assim como a União, continuem firmando convênios com comunidades terapêuticas. Ainda no âmbito do governo estadual, vale destacar que 47 comunidades terapêuticas continuam habilitadas para receber os auxílios nutricional, água e energia, com custo mensal de R$ 179,8 mil aos cofres públicos. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social de Goiás (Seds), a pasta acompanha e fiscaliza o uso dos recursos, com visitas técnicas de vistoria.

Especialistas, profissionais que atuam na rede e usuários dos serviços ouvidos pela reportagem foram unânimes em concordar que o avanço das comunidades terapêuticas acontece em meio a um vazio assistencial de outros aparelhos da Raps, principalmente os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III (Caps AD III) e as Unidades de Acolhimento (UAs), que têm perfis de acolhimento mais semelhantes aos das comunidades (confira quadro).

Conforme a portaria que instituiu a Raps no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), essas unidades podem ser abertas em municípios ou regiões com população acima de 200 mil habitantes. Goiás conta com seis municípios com população superior ao exigido. Cinco deles contam com Caps AD III, sendo que Aparecida de Goiânia ainda possui uma unidade infanto-juvenil. Quando o assunto são as UAs, a situação de Goiás é mais crítica: o estado não conta com nenhuma unidade do tipo para adultos. A UA seria justamente a responsável por acolher pessoas vulneráveis e que demandam acompanhamento terapêutico e protetivo de caráter transitório, com tempo de permanência de até seis meses.

O Ministério da Saúde estabelece R$ 150 mil como incentivo financeiro de custeio para implantação de um CAPS AD III novo. A portaria que define o valor é de 2012. Em dezembro de 2023, o governo federal dobrou o investimento para custear as UAs. Com os novos valores, o custeio mensal para a assistência a adultos passou de R$ 25 mil para R$ 50 mil. Em março deste ano, foi aprovada uma resolução da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para que o cofinanciamento da Raps pelo governo estadual aumentasse de 25% para 30% do valor enviado pelo Ministério da Saúde.

Entretanto, o presidente da Comissão de Saúde do CRP-GO ainda chama atenção para o fato de que um único aparelho, o Complexo de Referência Estadual em Saúde Mental (Cresm), antigo Centro Estadual de Referência e Excelência em Dependência Química (Credeq), ainda recebe mais recursos que todo o restante da Raps (confira quadro). "A Raps funciona quando inserida dentro de um território, de maneira articulada. Como vamos falar de atendimento na perspectiva de protagonismo do usuário quando os valores repassados para a Raps ainda são menores?", provoca Lima. Nesse sentido, a gerente de Saúde Mental da SES-GO reconhece as fragilidades da rede, mas afirma que a previsão é de que, em 2026, o repasse para a Raps seja maior do que para o Cresm. "Estamos trabalhando para corrigir distorções", finaliza Nathália.

Caps AD III é modelo em tratamento

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) foram criados com a proposta de substituir os ambientes manicomiais. Nesse sentido, os Caps Álcool e Drogas III (Caps AD III) funcionam 24 horas e contam com acolhimento noturno. No Caps AD III Criarte Vida, uma das referências em Goiás, são 12 leitos e cada paciente pode permanecer na unidade por até 14 dias. "Para desintoxicação. Depois, ele vai seguir com tratamento na modalidade diurna, com atividades terapêuticas", detalha Eurides Santos Pinho, coordenadora de Saúde Mental de Aparecida de Goiânia, onde fica a unidade.

A equipe do Caps AD III Criarte Vida é multiprofissional, sendo composta por médicos (clínico e psiquiatra), enfermeiros, técnicos em enfermagem, farmacêuticos, fisioterapeutas, professores de educação física e assistentes sociais. "Somos uma unidade porta aberta. Basta chegar. É feito um acolhimento inicial, onde é definido o projeto terapêutico singular, já que cada paciente vai precisar de um tratamento diferente. Aqui não existem grades e ninguém fica amarrado ou preso. Se o usuário decidir abandonar o tratamento, ele pode sair quando quiser", esclarece Eurides.

A coordenadora aponta que o local recebe muitos pacientes que já estiveram em comunidades terapêuticas e carregam traumas. "Além da abstinência total e do isolamento, que podem ser problemas, tem a laborterapia. Quando o corpo está em processo de desintoxicação, a pessoa sente fraqueza e pode desenvolver até neuropatias. Na prática, ela não vai ter forças para trabalhar", diz. Segundo Eurides, o intuito dos Caps AD III é promover um tratamento vinculado às relações cotidianas dos pacientes. "Eles precisam estar fortalecidos para transitarem nos ambientes que convivem e que o acesso a droga é facilitado", pondera.

Usuária do Caps Ad III Ipê, em Goiânia, e presidente da Associação de Usuários dos Serviços de Saúde Mental (AUSSM) da capital, Vanete Resende é uma crítica das comunidades terapêuticas e defensora dos Caps. "Sou uma das sobreviventes da situação de rua porque procurei o Caps para me tratar. Além de receberem dinheiro do poder público, elas pedem para as famílias. Luto pelos grupos terapêuticos, que hoje estão dentro dos Caps, que salvam vidas e socializam as pessoas", comenta.

Convênios são essenciais, diz Febract

A Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas (Febract) considera os convênios do poder público com as comunidades terapêuticas essenciais para o bom funcionamento desses locais. "É de suma importância. As famílias são descapitalizadas quando o familiar se envolve no uso de risco de substâncias psicoativas", afirma Norma Silva, coordenadora da Febract em Goiás. Como instituições do terceiro setor, as comunidades terapêuticas podem ser mantidas por iniciativas privadas e por parcerias com o governo.

Norma define as comunidades terapêuticas como equipamentos da rede suplementar e destaca que essas instituições prestam serviços de acolhimento residencial transitório, com adesão e permanência exclusivamente voluntárias. Ela também aponta que elas possuem equipes multidisciplinares, responsáveis pelo desenvolvimento de um Plano Individual de Atendimento (PIA) para os acolhidos e por avaliações rotineiras.

Em relação aos episódios de violência e violações dentro das comunidades terapêuticas, Norma acredita que eles refletem a falta de fiscalização, que é competência do poder público. "E também a falta de clareza entre o que é o serviço comunidade terapêutica e a clínica especializada. Todas as atividades desenvolvidas nas comunidades terapêuticas devem ser baseadas no respeito à dignidade da pessoa humana", frisa.

Muitas das comunidades terapêuticas têm forte caráter religioso, o que é alvo de críticas, mas que Norma considera como positivo. "Existem evidências consistentes do papel da espiritualidade no tratamento e recuperação das pessoas com problemas por uso de substâncias", diz. Ela dá como exemplo programas de 12 passos, como o Alcoólicos Anônimos (AA).

Em relação ao isolamento, Norma explica que a crítica se dá pelo fato de a maioria das comunidades estarem situadas em zonas rurais, mas enfatiza que sempre devem existir mecanismos para garantir o transporte e acesso dos acolhidos à rede de saúde e de proteção social. "É muito importante garantir recursos que facilitem o processo gradativo de reinserção sociofamiliar, através das saídas terapêuticas", conta. Sobre a prática da abstinência, ela relata que ela é amparada pela lei que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad).

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A cada 2 dias, 3 motociclistas perdem a vida em Goiás

Em 2024, 589 motoristas ou passageiros de motos morreram no Estado em razão de sinistros de trânsito, o que é 33% dos 1.775 óbitos registrados nas vias

Trecho urbano da BR-153 é o local com a maior registro de mortes de motociclistas em Goiânia em 2024

Trecho urbano da BR-153 é o local com a maior registro de mortes de motociclistas em Goiânia em 2024 (Wildes Barbosa / O Popular)

No último dia de 2024, um motociclista colidiu com um carro no final da manhã daquela terça-feira no cruzamento da Avenida Portugal com a Rua João de Abreu, no Setor Oeste, em Goiânia e morreu ainda no local. Uma semana antes, durante uma forte chuva, um motociclista de 47 anos perdeu o controle da moto, caiu na Avenida Perimetral Norte e foi atropelado por um caminhão e não resistiu. No ano passado, a cada dois dias em Goiás, três motociclistas ou passageiros de motos perderam a vida nas vias do Estado ou em decorrência de sinistros de trânsito, quando foram registrados 1.775 vítimas fatais do trânsito, sendo 589 que estavam em motos, de acordo com os registros de óbitos da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), dentro do Programa Vida no Trânsito (PVT).

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Para se ter uma ideia, há 20 anos, em 2005, o número de óbitos de motociclistas em Goiás era um quinto do total. Naquele ano, a SES-GO, de acordo com o sistema Datasus do Ministério da Saúde, registrou 1.612 óbitos no trânsito do Estado, sendo 324 vítimas fatais ocupantes de motocicletas. O aumento proporcional dos acidentes em duas décadas se deu ao mesmo tempo em que tivemos uma redução na proporção da quantidade de motocicletas no Estado. Em 2005 eram 1.444.165 veículos, sendo 308.259 motos, sendo 21,34%. Já neste ano, os números são de 4.880.873 veículos no Estado, com 904.389 motos, uma relação de 18,32%.

O perito criminal de trânsito e membro da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Antenor Pinheiro, explica que o problema não é o número de motocicletas, mas como elas transitam nos sistemas viários das cidades. "A ausência de uma política pública rigorosa de fiscalização de trânsito justifica essa assustadora letalidade, pois as infrações de excesso de velocidade, avanço de semáforo, uso de celular e trânsito sobre calçadas são a regra prevalente dos motociclistas urbanos em geral. Se essas infrações não são coibidas, a tendência é a ocorrência de sinistros crescer, pois tecnicamente todo sinistro a ele precede uma ou mais infrações simultâneas cometidas", esclarece.

Diretor-executivo do Instituto Co.Urbano e membro do Mova-se Fórum de Mobilidade, Marcos Villas Boas acredita que, no geral, a frota teve aumento vegetativo, mas os óbitos dos motociclistas é um aumento exponencial. "É um meio mais barato e não tem investimento no transporte coletivo, não temos infraestrutura de corredores para os ônibus, por exemplo, e as pessoas sofrem pressão dos patrões para chegar no horário, acabam indo para as motos. Depois, é uma tragédia anunciada a partir do advento do serviço de entrega, que atinge uma massa social relevante, que são remunerados para correr o quanto puderem e fazer infrações, pois quanto mais rápido chegarem, vão conseguir outra corrida e boa avaliação", diz ele.

Pinheiro entende que o problema imediato é nacional e "está vinculado aos fatores já mencionados, mas também associado aos tradicionais e falhos critérios de formação de condutores de motociclistas no Brasil". O perito afirma ser preocupante os exames de prática para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). "Há muito se faz necessário a revisão desses processos, mas nada acontece. Também soma-se a esse drama a 'mecânica veicular', em especial as condições dos pneus, sistemas de freios e suspensão; e a eficácia dos capacetes, a maioria com prazos de validade vencidos e estruturas com visíveis indícios de fadiga de material. Qualquer impacto, são ejetados ou se esfarelam ao solo, e isso não é fiscalizado conforme exige a legislação."

Início do ano

A estatística da proporção de mortes dos motociclistas permanece idêntica nos primeiros meses deste ano, em que, até março, já haviam sido registrados 53 óbitos de motociclistas ou passageiros de um total de 158 registros de todos os meios somados. Nos primeiros 15 dias deste mês, ao menos oito óbitos de motociclistas foram registrados no Estado. No último dia 6, um motociclista de 29 anos faleceu ao atingir um cavalo e, em seguida, ser atropelado por uma caminhonete, cujo motorista não prestou socorro, na GO-060, em Trindade. Dois dias depois, uma mulher de 20 anos atingiu com uma motocicleta a traseira de um caminhão na GO-080, no município de Petrolina, e morreu ainda no local.

Em Goiânia, os dados da SES-GO de mortes em decorrência de sinistros de trânsito ao final de 2024 apontam para 267 vítimas fatais, sendo 123 que estavam em cima de uma moto, ou seja, uma representatividade de 46% do total de 2024. Na capital, ocorre uma morte de motociclista ou passageiro do veículo a cada três dias e a cidade lidera a estatística no Estado.

Para se ter uma ideia, Goiânia possui um índice de 1.767 motociclistas mortos a cada 100 mil habitantes, enquanto que Aparecida de Goiânia tem 184 e Anápolis 139. Se levarmos em conta o índice com relação a 100 mil motos, a capital chega a 419 vítimas fatais por 100 mil veículos, enquanto Aparecida fica com 43 e Anápolis em seguida, com 29.

Na comparação entre os rankings das cidades com os maiores números de óbitos no trânsito e aqueles apenas de motociclistas em Goiás, chama a atenção que há duas cidades do Entorno do Distrito Federal (DF), Luziânia e Águas Lindas, entre aquelas com maiores quantidades de vítimas fatais na estatística geral, mas que não aparecem na mesma relação quando computados apenas os falecimentos de pessoas com motocicletas. Neste caso, passam a integrar a lista as cidades de Goianira e Goianésia, entre aquelas com o maior número de casos de fatalidades envolvendo motociclistas.

BR-153 é a mais perigosa

O perímetro urbano da BR-153 em Goiânia é o local com a maior quantidade de registros de óbitos de motociclistas no trânsito. Em todo o ano de 2024, 8 pessoas morreram em uma motocicleta ao percorrer o trecho, de acordo com o relatório do Programa Vida no Trânsito (PVT), divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) no início do mês.

Um dos casos ocorreu na madrugada do dia 22 de outubro, na região do Setor Conjunto Caiçara, no sentido Goiânia-Terezópolis, quando o motociclista perdeu o controle do veículo e colidiu com um poste de iluminação da rodovia. Ele chegou a receber atendimento de urgência da concessionária da via, mas não resistiu aos ferimentos e morreu ainda no local.

Neste ano, a situação continua perigosa. No final de janeiro, um motociclista foi a óbito ao bater em um carro e ser atropelado por um caminhão na BR-153, próximo ao Estádio Serra Dourada. Em março, o condutor de uma motocicleta, de 45 anos, colidiu com a traseira de um caminhão que estava parado na pista da rodovia no sentido Goiânia-Aparecida, na região do Setor Jardim Goiás. A SMS explica que os dados do Painel Vida no Trânsito, que faz parte do PVT, tem o objetivo de "fortalecer o processo de análise para os profissionais que desenvolvem ações de vigilância de lesões no trânsito e os dados do painel não alimentam diretamente um sistema nacional".

"Os registros de óbitos feitos pela saúde municipal são enviados para o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do governo federal e depois enviados ao Datasus, uma vez que o SIM é um dos sistemas de informação que compõem a base de dados do Datasus. O Painel Vida no Trânsito apresenta dados mais atualizados em relação ao Datasus porque a atualização da ferramenta nacional depende do fechamento de informações sobre mortes no trânsito de todos os municípios do país", informa a SMS.

O levantamento mostra que, depois da BR-153, a segunda via com mais ocorrências de óbitos de motociclistas é na Avenida Perimetral Norte. Em seguida aparecem as GO-020 e GO-462.

Medidas

Nos últimos anos, as gestões municipais na capital têm apontado medidas para tentar beneficiar os motociclistas no trânsito de modo a tentar impedir a disputa por espaço com os demais veículos. Entre elas estão os motoboxes, que são espaços segregados para as motos nos semáforos, a frente dos outros veículos, que permitem que os motociclistas possam sair na frente com a abertura do sinal.

Mais recentemente, a atual gestão liberou o uso dos corredores preferenciais do transporte coletivo para serem compartilhados com as motos. O perito Antenor Pinheiro entende que há medidas interessantes possíveis de mitigar o problema, mas devem estar associadas ao planejamento urbano que vise a pacificação comportamental entre os condutores dos diversos modais.

"A moderação de velocidades urbanas, por exemplo, é uma medida de eficácia comprovada. Os boxes de confinamento de motocicletas nas paradas semafóricas é uma medida de eficácia comprovada em todo o país. Mas há receio sobre as faixas exclusivas para motocicletas ou compartilhadas com os ônibus, sobretudo por razões técnicas. Primeiro que nessa ideia está inserido o estímulo ao uso deste modal (motocicleta) em detrimento dos sistemas de transportes públicos (ônibus) e de propulsão humana (bicicletas). Segundo porque onde isso tem sido praticado não tem surtido efeito, como na cidade de São Paulo. Pesquisas recentes determinaram um assustador aumento no número de mortes de motociclistas na ordem de 20% em 2024 na cidade paulistana. Não acho plausível esse conceito", diz o especialista.

Dias da semana

Segundo o painel (ver quadro na página ao lado), a maior parte das ocorrências de óbitos se dão aos finais de semana, com a maioria aos sábados, depois domingos e ainda às sextas-feiras. Os dados também mostram que metade dos óbitos ocorrem ainda no local do acidente e o restante no deslocamento ou nas unidades de saúde. Este fato é o que diferencia os dados das secretarias de Saúde com aqueles disponibilizados pelos órgãos de trânsito, em que são contabilizados apenas as mortes ainda no local. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), que detém os dados disponibilizados por todos os municípios, a pasta "tem o papel de produzir informações qualificadas que possam subsidiar as intervenções efetivas para a prevenção das mortes por acidentes de trânsito".

A secretaria ainda estimula gestores e profissionais das unidades de saúde a realizar ações rotineiras e pontuais sobre o respeito à legislação de trânsito. "A coordenadora estadual de Vigilância de Violência e Acidentes (Viva) da Superintendência de Vigilância em Saúde da SES-GO, Maria de Fátima Rodrigues, acentua que os acidentes de trânsito representam grave problema de saúde pública devido aos altos índices de morbimortalidade. Destacamos também a expansão do Programa Vida no Trânsito (PVT) para 11 municípios goianos", informa a SES-GO.

O PVT é um programa federal e a sua efetivação no município "possibilita a qualificação das informações e o desenho de um mapa abrangente das vias de maior risco de acidentes graves gerados a partir dos dados sobre óbitos, acrescidos das internações e atendimentos por acidentes de trânsito, assim como poderão ser realizadas ações efetivas e condizentes com a realidade de cada município para a redução de mortalidade e sinistros de trânsito". Segundo o Ministério da Saúde (MS), o PVT é uma estratégia para reduzir acidentes e mortes no trânsito.

"Com abordagem intersetorial, envolve áreas como saúde, transporte, segurança, planejamento urbano, educação e organizações não governamentais, e está alinhado às metas da ONU para a segurança viária. Municípios participantes do PVT utilizam informações de múltiplos setores, como os sistemas SIM (Mortalidade) e SIH (Hospitalares), para elaborar e manter paineis locais que orientam ações voltadas a fatores de risco e grupos vulneráveis", esclarece o ministério. O órgão federa atua no Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e integra ações do Plano de (Doenças Crônicas e Agravos Não Transmissíveis) DANTs (2021-2030) com o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans), reforçando a articulação na prevenção de sinistros no trânsito.

Regulação dos entregadores

Para o membro do Mova-Se Fórum de Mobilidade, Marcos Villas Boas, uma maneira de reduzir as mortes de motociclistas em Goiás e em Goiânia é que os municípios realizem a regulamentação do serviço de entrega por motocicletas, de modo a coibir a realização de infrações, sobretudo o excesso de velocidade. "A impunidade é muito grande. Remunerar pela velocidade, por cometer infrações é o maior problema atualmente. O aplicativo fala em entrega em 18 minutos e chega em 5. Como ele consegue isso? Cometendo infrações, e nada acontece com o entregador que faz isso", diz.

Ele lembra que é um tema complicado, já que, a princípio, todos os envolvidos na relação comercial (empresa, entregador e cliente) se beneficiam com a alta velocidade, avanço de sinal, uso da contramão e outros, mas não se percebe o risco de participar de um sinistro de trânsito. "A regulamentação do sistema de entregas é imprescindível, com foco nas exigências obrigatórias para o transporte de cargas sobre duas rodas, dentre estas a padronização de suportes e baús acompanhada de habilitação específica. Uma das questões ainda não atendidas está na exigência obrigatória de assinatura de contratos que prezem o fator segurança na execução do trabalho. É preciso que o município e o Ministério Público do Trabalho exijam e fiscalizem os contratos entre entregadores e as empresas fornecedoras, pois, quando existem, a remuneração está condicionada aos prazos de entregas", diz Antenor Pinheiro.

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Jovem morre após perder controle de carro e bater contra muro de empresa às margens da BR-060

Segundo Polícia Rodoviária Federal, motorista acessou rodovia por via marginal antes do acidente

Segundo bombeiros, vítima foi encontrada morta (Divulgação/PRF)

Segundo bombeiros, vítima foi encontrada morta (Divulgação/PRF)

Um jovem de 28 anos morreu após perder o controle do carro que estava e bater contra um muro de uma empresa às margens da BR-060, em Abadia de Goiás, na Região Metropolitana de Goiânia. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o acidente aconteceu na madrugada desta sexta-feira (18)

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De acordo com a polícia, o motorista tentou acessar a rodovia por via marginal no sentido Abadia para a capital quando perdeu o controle do veículo. O Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBM-GO) atendeu a ocorrência.

Chegando ao local encontramos a vítima sentada, dentro do veículo, sem sinais vitais", relataram os bombeiros.

O Corpo de Bombeiros informou que um médico do Hospital de Abadia, que estava no local, atestou a morte do motorista. Uma equipe da Polícia Técnico-Científica (PTC) compareceu ao "local de crime" e fez uma perícia preliminar.

A princípio foi uma saída de pista seguida de colisão em um muro, não teve elementos que justificassem a saída de pista", disse a PTC.

O POPULAR entrou em contato com a Polícia Civil de Goiás (PC-GO) para obter mais informações sobre esse acidente, mas não houve retorno até a última atualização desta reportagem.

Carro do motorista ficou destruído (Divulgação/CBM-GO)

Carro do motorista ficou destruído (Divulgação/CBM-GO)

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Homem desaparece em Aparecida de Goiânia, e família acredita que tenha ligação com dívidas em jogos de apostas online

Geraldo Nogueira Cavalcante saiu para trabalhar e chegou a entrar em contato com a irmã antes de desaparecer

Geraldo Nogueira Cavalcante, de 31 anos, desapareceu após sair para trabalhar, em Aparecida de Goiânia (Arquivo Pessoal/Débora Thaís)

Geraldo Nogueira Cavalcante, de 31 anos, desapareceu após sair para trabalhar, em Aparecida de Goiânia (Arquivo Pessoal/Débora Thaís)

O técnico em ar-condicionado Geraldo Nogueira Cavalcante, de 31 anos, desapareceu na sexta-feira (11), após sair para trabalhar, em Aparecida de Goiânia. A família suspeita que o sumiço esteja relacionado às dívidas acumuladas por ele com apostas online feitas no ano passado. Desde então, perceberam que ele apresentava sinais de depressão, mas nunca havia desaparecido antes.

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Em entrevista ao POPULAR , a irmã Débora Thaís Nogueira relatou que Geraldo entrou em contato com ela por mensagem de aplicativo por volta das 14h50, pouco antes de sumir, dizendo que não estava se sentindo bem. Quando ela perguntou o motivo, ele respondeu que tudo estava difícil, mas que eram "coisas da vida".

Ele disse que iria na oficina ver o carro que estava em conserto, mas nem chegou a ir lá. Hoje completam sete dias que ele desapareceu. Não tivemos nenhum sinal dele", afirma a irmã.

Após o contato que fez com a irmã, Geraldo não voltou para casa e não foi mais visto. A família não conseguiu mais contato pelo celular dele. Um boletim de ocorrência foi registrado na Polícia Civil.

A família acredita que o sumiço possa ter relação com jogos online (Arquivo pessoal/Débora Thaís)

A família acredita que o sumiço possa ter relação com jogos online (Arquivo pessoal/Débora Thaís)

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Professor que foi esfaqueado por aluna já tinha registrado ocorrência contra ela, diz polícia

Aluna estava armada com um canivete e se aproveitou do momento em que o professor estava escrevendo no quadro para golpeá-lo nas costas

O professor foi atingido por um golpe de canivete nas costas (Reprodução/TV Anhanguera)

O professor foi atingido por um golpe de canivete nas costas (Reprodução/TV Anhanguera)

O professor que foi esfaqueado por uma aluna de 15 anos já tinha registrado um boletim de ocorrência contra ela por ameaça em 2024, segundo a Polícia Civil. O caso aconteceu no Colégio Estadual Dom Bosco, na cidade de São Miguel do Araguaia, na região norte de Goiás. A polícia apurou que a aluna tinha um desentendimento antigo com o professor, mas o motivo específico não foi revelado.

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Por se tratar de um caso com menor de idade, a identidade da adolescente não foi divulgada, por isso, O POPULAR não localizou a defesa dela. Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) informou que está analisando o ocorrido para impedir novas situações.

O caso aconteceu na manhã de terça-feira (15). Durante o intervalo, a aluna deixou sua sala e foi até a sala em que o professor estava, onde o encontrou escrevendo no quadro. Nesse momento, a adolescente o atacou com um golpe de canivete nas costas.

A aluna foi imediatamente contida e desarmada por outros estudantes e funcionários da escola. O professor foi socorrido e levado ao hospital, onde recebeu atendimento médico. Segundo a Seduc, ele já está em casa e retornará às atividades na próxima terça-feira (22).

Após o ataque, o professor registrou um novo boletim de ocorrência contra a aluna. A adolescente, acompanhada pelo pai, foi ouvida pela polícia, assim como o professor, o coordenador e o diretor da escola. A Polícia Civil investiga o caso como um ato infracional análogo à lesão corporal.

Canivete na escola

Polícia Civil investiga o caso como um ato infracional análogo à lesão corporal (Divulgação PC)

Polícia Civil investiga o caso como um ato infracional análogo à lesão corporal (Divulgação PC)

A Seduc informou que a escola tem detectores de metais na entrada dos estudantes e que a aluna teria entrado na unidade sem o canivete. A secretaria explicou que a menina teria deixado a faca em cima de um muro quando ainda estava na parte de fora da unidade, recuperando o canivete após ter entrado na escola.

Na quarta-feira (16), uma equipe composta por psicólogos e assistentes sociais prestou apoio aos servidores e estudantes da escola. A Seduc também comunicou que o caso foi encaminhado para a Superintendência de Segurança Escolar, que realizará uma reunião com as forças de segurança da cidade para definir as próximas ações.

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