Discurso de Caiado foi basicamente focado em aspectos regionais
Analistas avaliam que lançamento de pré-candidatura ficou preso a temas de Goiás e da Bahia, com a agenda nacional restrita; ausências mostram desafios do projeto

Rubens Salomão

Governador Ronaldo Caiado (UB): faltou novidade, dizem analistas (Hegon Corrêa)
Cientistas políticos ouvidos pelo POPULAR avaliam que o discurso do governador Ronaldo Caiado (UB) no evento de lançamento da sua pré-candidatura, em Salvador (BA), não trouxe novidades que pudessem dar maior amplitude ao projeto. Os analistas apontam que o evento ficou mais restrito a contextos de Goiás e da Bahia, sem reforçar a interlocução direta com a agenda nacional.
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"O governador não trouxe no discurso uma novidade em relação ao que ele já fala aqui no estado e nas entrevistas a veículos nacionais. Faltou um diálogo efetivo com a agenda nacional. Ele falou muito ligeiramente sobre problemas e políticas públicas nacionais, mas sempre aludindo a experiência e o impacto disso em Goiás. Em raras vezes ele fala do lugar onde ele vai chegar. É como se ele usasse o palanque para ser oposição e não para ser propositivo", aponta o cientista político Guilherme Carvalho.
O professor da PUC/GO ainda destaca que as avaliações do goiano sobre as principais políticas nacionais ou internacionais foram apresentadas de forma discreta e genérica. "Ele citou que o Brasil está ficando para trás no G20 e no Brics, mas ficou nisso e não avançou em um posicionamento sobre a política externa. Se acredita no multilateralismo ou no bilateralismo, por exemplo. Foram posicionamentos discretos", pontua.
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Além do discurso, os especialistas avaliam que o evento frustrou a expectativa de uma demonstração de força política , com a ausência de lideranças com maior abrangência e representatividade, como o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, o que mostra a dificuldade do pleito do goiano.
O especialista ainda considera a busca de Caiado por se apresentar como opositor ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas com esforço para se diferenciar do tom agressivo adotado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores.
"É interessante que o governador critica o presidente Lula, mas de uma forma respeitosa. Isso mostra um papel institucional muito diferente. Por exemplo, quando ele diz que se o presidente não dá conta de governar, que deixe a gente chegar lá. ou seja, ele não é agressivo e não xinga o Lula como a extrema direita costuma fazer. Então, o Caiado marca uma delimitação de onde ele não passa", analisa.
"Isso era algo esperado e ele cumpriu: não tentou atrair um eleitorado que não fosse dele. Isso é bom sob alguns aspectos, mas não acrescenta votos. O governador não se mostra como um pleiteante de fato e faltaram no discurso as linhas mestras que definam os posicionamentos dele sobre a agenda nacional", observa Guilherme Carvalho.
O professor ainda ressalta a ausência de Antônio Rueda e o possível avanço de articulação para definição de federação do partido com o PP, o que aumenta as chances de composição com outro projeto, em detrimento do pleito de Caiado. "O presidente do União Brasil não estava presente e a gente sabe que o partido está rachado. Não vimos a presença de outras lideranças nacionais do partido, como deputados e senadores, à exceção do senador Sérgio Moro e do Otoni de Paula, do Rio de Janeiro, mas o evento não fez coro", avalia.
"Não foi o evento que o Caiado queria. Isso está claro e ficou marcado no palco, porque eram representações muito locais e o diálogo todo ficou entre a Bahia e Goiás e não teve novidade nenhuma. É claro que ainda não é o momento de apresentar propostas ou plano de governo e essa não era a intenção nesse momento. O objetivo era marcar uma posição, mas foi uma posição de bastante fragilidade institucional", analisa.
"Então, foi um evento bastante esvaziado em relação à lógica nacional. Se o Caiado chegar lá e tiver o efetivo lançamento de candidatura, pode ser que tenha um evento mais representativo, mas esse evento não foi uma demonstração de força", considera o cientista político.
O especialista reforça que os principais problemas para a consolidação do projeto do goiano passam pela baixa representatividade do estado de Goiás e os conflitos internos do União Brasil. "O projeto se choca com o partido, que é pragmático do ponto de vista ideológico e está no jogo para ganhar. Assim, o Caiado pode ter as melhores propostas do mundo, mas se não mostrar viabilidade, ele passa a ter um choque com a realidade", diz.
Limitação
Já a coordenadora do Observatório do Conhecimento e docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart, aponta que o discurso do governador goiano representa uma limitação no atual cenário político no país.
"No tocante ao discurso, o Caiado se apresenta como um político, embora de direita, com feições de uma direita mais tradicional. Essa disputa entre as facções mais radicalizadas e mais tradicionais da direita, no momento, está pendendo para as mais radicalizadas, que têm uma capilarização, através das redes, muito mais eficiente do que as direitas tradicionais. Essa é uma limitação do discurso do Caiado", avalia a professora da UFRJ.
Mayra Goulart diz ainda que partidos como União Brasil e MDB se caracterizam por não ter grandes nomes para o projeto nacional ou projetos ideológicos nacionais nas suas trajetórias. "São partidos que abrem mão de ter essas lideranças nacionais exatamente por serem partidos de lideranças locais. É um balaio de gatos, de caudilhos locais, que desejam autonomia para fazer suas articulações de força locais. E uma candidatura presidencial com conteúdo ideológico pode prejudicar essa liberdade de alinhamentos locais. Esse é um ponto que já se impõe como uma restrição à candidatura de Caiado", afirma a cientista política.
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