Imas de Goiânia perde médicos e clínicas desde o início da pandemia
Funcionários públicos de Goiânia reclamam de descredenciamento de profissionais por falta de pagamento e dificuldade para realizar procedimentos. Relato é que descontos se mantêm regulares
Catherine Moraes

Thais Rodrigues começou a usar o plano em 2015 e, desde então, diz enfrentar problemas. A mãe dela viveu drama com serviço durante tratamento (Wesley Costa)
Médicos e clínicas descredenciados, atendimentos negados, cotas para exames e consultas, troca de profissionais com frequência, além de denúncias de insatisfação e descaso. Estas são apenas algumas das reclamações dos beneficiários do Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores de Goiânia (Imas), o convênio médico e odontológico da Prefeitura.
O atendimento teria piorado após o início da pandemia, em 2020. Pacientes relatam ouvir dos médicos que estes estão deixando de atender por falta de pagamento. Os descontos em folha, entretanto, continuam ocorrendo normalmente.
A professora Thais Millena Rodrigues, de 36 anos, utiliza o Imas desde 2011, quando entrou na Prefeitura. Ela afirma que o plano sempre foi ruim e relata diversos problemas que já sofreu, mas diz que a situação se agravou nos últimos anos. "Tive duas situações bem ruins. A primeira foi que comecei terapia em 2016 e tive de mudar o tratamento para particular, pois a psicóloga ficou nove meses sem receber. Desde então, pago particular. A ginecologista também parou de atender pelo plano e precisei procurar outra médica. Do ano passado para cá está cada vez pior", lamenta.
Em outubro do ano passado, ela teve uma alteração em um exame de sangue e foi até o Hospital Ruy Azeredo, mas quando chegou à unidade de saúde foi informada que o atendimento ao Imas estava suspenso. Este era o único hospital credenciado na região Noroeste. Agora, a professora diz que ora o hospital atende consultas, ora cancela todas por falta de cotas.
"O Imas é descontado no nosso salário, uma taxa fixa e pagamos também uma co-participação nas consultas, tudo em folha, então não há possibilidade de não pagarmos, mas esse valor demora muitos meses para ser repassado aos profissionais. Não há transparência na gestão dos valores, então a gente não sabe quanto o Imas recebe por mês, quanto sobra e o que é feito com esse dinheiro. Certamente não é para pagar rapidamente os profissionais, já que passamos por situações esdrúxulas ao tentar atendimento e não conseguirmos", diz Thais.
Sem se identificar, uma auxiliar de atividades educativas, de 53 anos, conta que não tinha enfrentado problemas com o Imas antes de 2020. Desde o ano passado, entretanto, teve consultas, exames e até mesmo a cirurgia de um filho, cancelados. No mês passado, ela consultou com um ginecologista novo porque a médica dela foi descredenciada. Com isso, pegou pedidos de exames de rotina e de imagem. Inicialmente, conseguiu fazer os exames de sangue, urina, prevenção. Quando tentou mamografia, ultrassom vaginal e abdominal, os exames de imagem foram negados.
"Primeiro alegaram que a receita não tinha data. Voltei ao consultório do médico e depois, ao laboratório, no mesmo dia, mas não consegui atendimento. No dia seguinte, retornei e negaram de novo alegando que o exame era de alto custo e que necessitava de um relatório médico. Sempre passei por estes exames e nunca foram avaliados assim. Até mesmo o médico disse que nunca tinha feito este tipo de relatório para os exames solicitados e que era um procedimento novo, mas agora estou novamente com a documentação e vou tentar mais uma vez."
Risco
Os problemas da servidora não pararam por aí. O filho precisa de um procedimento para retirada de pólipos no reto, que inclui anestesia geral e internação. Ela tenta, sem sucesso, desde dezembro do ano passado e o pedido é que ela aguarde. O problema é que geralmente os pólipos antecedem o câncer de reto. "Também me consultava com um psiquiatra havia sete anos e ele foi descredenciado. Se não voltar a atender, vou ter de pagar consulta particular porque não quero trocar de médico. Ele me acompanha há muitos anos e eu confio no trabalho dele. Além disso, envolve medicamentos controlados. O Imas está deixando muito a desejar. Pagamos tudo que usamos. Para onde está indo esse dinheiro?", questiona.
Sirlene Aparecida Machado, de 56 anos, é concursada do município há 15 anos e conta que desde o ano passado passou por algumas dificuldades. O filho dela precisa fazer um reparo em um dente que está com infiltração, mas não consegue. Isto porque o Imas quer dar apenas 20 dias para o tratamento completo, mas o dentista disse que é insuficiente. "O dentista recusou porque disse que não dá tempo de finalizar todo o tratamento neste período", completa. Por mês, ela paga R$ 670,00 descontados no pagamento, contando com os dependentes, mas afirma que o atendimento não está satisfatório.
Resposta
Por meio de nota, o Imas informou que está atento a todas as demandas, denúncias e que vem tomando as "medidas necessárias" para sanar esses problemas. Disse ainda que uma reunião emergencial foi agendada para a próxima segunda-feira (17) entre os representantes do Imas, servidores da Prefeitura de Goiânia e credenciados.
Em relação à oferta de cotas, o Instituto afirmou que o sistema está passando por reformulação para proporcionar uma regulação "mais eficaz e justa". O Instituto ainda reforça que "mantém constantes processos de análises dos prestadores de serviços, que estão com seus pagamentos em dia".
Reclamações podem ser feitas pelo: 62 3524-1129.
Funcionária pública atravessou via crúcis com a mãe doente
Francineire Cândida, de 39 anos, é pedagoga e beneficiária do Imas desde 2011, mas começou a usar o serviço em 2015, quando passou por uma cirurgia de apendicite. Na época, disse que presenciou situações que se repetiram ao longo dos anos, nos quais colaboradores de hospitais pareciam tratar com descaso pacientes do instituto. A pior das experiências, entretanto, ocorreu com a mãe, que não resistiu e morreu vítima de um câncer no ano passado. Mas, antes disso, a luta contra a doença aconteceu paralela a uma busca por atendimento.
Em 2019, a mãe de Francineire precisava de um especialista em cabeça e pescoço para tratamento de um câncer. Ela foi ao Imas e conseguiu a indicação de um especialista, que era o único credenciado pelo plano. O problema é que ele tinha suspendido os atendimentos. "Como estava muito sério, decidimos passar a consulta para ele e fizemos exames pelo Imas. Minha mãe internou pelo plano, mas precisamos pagar pela cirurgia no Hospital São Lucas. Depois, começamos uma luta. Minha mãe ficou muito depressiva, ficou um mês internada pelo Imas e foi muito bem tratada no Hospital Jacob Facuri, mas o câncer voltou e nossas dificuldades retornaram", recorda.
Em seis meses um câncer no pulmão retomou as consultas com a única médica que estava atendendo pelo plano. "Foi horrível a consulta e minha mãe saiu de lá em choque. Voltamos ao primeiro médico, que nos deu desconto nas consultas e fizemos tratamento com ele e consultas com o Imas até 2020. Eu tinha problemas em continuar com os mesmos médicos porque em um mês um atendia e de repente o Imas não pagava e tínhamos de ir em outro".
Na pandemia, o quadro piorou e Francineire afirma que quando falava que era pelo Imas ,os hospitais diziam que não tinham vagas. Uma vaga surgiu no Hospital Renaissance e ela permaneceu internada por dez dias, antes da alta médica. "Minha mãe piorou e eu a levei várias vezes ao Hospital Goiânia Leste e não internavam porque não tinha vaga pelo Imas. Ela ficou muito mal, chamei um Samu e ela foi para o Cais, depois conseguimos uma vaga no Hospital Cliame e paguei uma ambulância para a transferência, mas depois de alguns exames, descobrimos que o hospital não tinha perfil de atendimento", finaliza.
A vaga surgiu com ajuda do oncologista no Renaissance, mas aí o plano não liberava os exames. "Infelizmente minha mãe não resistiu e faleceu", se emociona.
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