Um dia após participar da manifestação na Avenida Paulista promovida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em favor da anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro de 2023, o governador Ronaldo Caiado (UB) classificou, nesta segunda-feira (7), a medida como "um ato humanitário, de significado maior, em decorrência das penas, que extrapolam aquilo que a população também entende como parâmetro em outros casos".
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Questionado pelo POPULAR após a abertura da 22ª edição da Tecnoshow Comigo, em Rio Verde (GO), sobre o saldo da participação no evento ao lado do ex-presidente e de outros seis governadores de direita, Caiado disse que a tônica do ato foi o clamor por "pacificação" no país e que o estado "não julga para vingar", mas sim para "fazer justiça". Nesse sentido, conclamou que ocorra "um entendimento entre as partes".
"O que se exige é que haja ali uma razoabilidade entre os critérios para que as pessoas possam ser unidas. Da maneira como as penas estão sendo levadas, este sentimento tem sido rejeitado pela população", afirmou o governador. "Tem criado uma rebelião enorme em decorrência de um comparativo. Uma pessoa mata outro cidadão, aí tem nove anos de cadeia. Aí entra na progressão e daqui a pouco ele já está solto", disse.
Apesar de pregar a pacificação, Caiado ponderou que "não acata nem defende" determinadas atitudes do grupo que depredou as sedes dos Três Podere s, em Brasília, em 2023. Desde o ano passado, o governador vem defendendo um "filtro" para a anistia. "Mas nós não podemos ter dois pesos e duas medidas. Quando alguém pratica de um lado ideológico, ele tem a conivência e a complacência. Do outro, ele tem punições estratosféricas", afirmou.
O goiano relacionou a discussão com o chamado "Abril Vermelho", ação do Movimento dos Sem Terra (MST) de ampliação das ocupações de terras em todo o país, para criticar a estrutura do governo federal que "alimenta esse tipo de ação". Caiado referia-se a reunião que o MST teve há poucas semanas com o presidente Lula (PT) em Minas Gerais.
Mobilização
"Então, depois de dois anos presos por aquilo que foi feito ali, o momento é de colocar em votação", afirmou o governador acerca da pressão na Câmara dos Deputados para que o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) paute o projeto de lei da anistia. "Se isso vai fazer o presidente pautar, eu acredito que sim. Por quê? Porque a maioria dos partidos deram um sinal positivo e com isso tem-se o número de 257 deputados para que a matéria seja pautada."
"Pautou-se a matéria, respeita-se a decisão de plenário. Vai para o Senado; se o presidente vetar, volta para o Congresso para derrubar o veto. E aí, cumpre-se a decisão da Casa do Povo, que é o Congresso Nacional", complementou.
Caiado negou que a iniciativa dos governadores de mobilização das bancadas legislativas de seus respectivos estados para votação favorável ao projeto da anistia tenha partido do deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do PL na Câmara. Segundo o goiano, o acordo foi feito em reunião no Palácio dos Bandeirantes no domingo (6).
"Se a população toda hoje deseja que a gente traga paz para o país, ninguém aguenta mais esse conflito, ninguém aguenta mais. Ao invés de discutir assuntos que são extremamente importantes na economia brasileira, no avanço da criminalidade, nós precisamos dar um fim a isso. Então, eu, como todos os outros, assumimos esse compromisso, lá no Palácio dos Bandeirantes, que nós iríamos trabalhar nas nossas bancadas."
Falando especialmente a agricultores e empresários durante a abertura da 22ª Tecnoshow Comigo, Caiado também buscou nacionalizar seu discurso ao colocar na conta do governo federal a culpa pelos preços elevados de itens de consumo.
"A responsabilidade é da incompetência do governo federal que gasta muito nesse país que não sabe controlar seus gastos e tem os juros que é cada patamar de 15 pontos, de 14.25, com projeção de chegar a 15.20 até o final do ano. Quem sobrevive na economia de mercado hoje pagando uma agiotagem de 15.20 daqui uns dias? Qual é o segmento que sobrevive sem ter direito a seguro rural? É um país que o risco é 100% dos produtores."
Despedida
No final do discurso na Tecnoshow nesta segunda, o governador reforçou a ocasião como sendo a sua última participação no evento como governador do estado. Pré-candidato à Presidência da República em 2026, Caiado deve se desincompatibilizar do cargo até o início de abril do ano que vem, segundo normas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para concorrer ao Palácio do Planalto.
"Mas estará em meu lugar, aqui, falando pelo estado de Goiás, aqui também, que eu escolhi para continuar o meu projeto que é o Daniel Vilela. E continuará com a mesma garra, a mesma determinação, e a mesma escola da boa política", disse o governador, acrescentando ainda que o evento foi a sua "primeira despedida oficial com um ano de antecedência".
A abertura da feira teve a presença dos deputados Marussa Boldrin (MDB) e Daniel Agrobom (PL); do senador Vanderlan Cardoso (PSD); do presidente do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), Leandro Crispim; e de presidentes de entidades do setor privado.