O ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva (PT) acredita que a eleição presidencial de 2026 terá Lula (PT) como candidato e deverá marcar a abertura de novos rumos no partido. Nomes da direita, como o governador Ronaldo Caiado (UB) , já se movimentam na busca pelo espólio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível.
🔔 Siga o canal do O POPULAR no WhatsApp
Em meio ao início das negociações, Edinho diz, em entrevista ao POPULAR , que a "política de alianças" no PT é um caminho natural, dada a complexidade do tabuleiro atualmente. O modelo, afirma, poderá decantar em Goiás no âmbito da disputa para o governo estadual.
O fortalecimento da sigla em Goiás é uma das metas de Edinho caso assuma a presidência do diretório nacional do PT. Ele é pré-candidato na disputa que ocorrerá em julho e é o nome favorito do presidente Lula.
'Pacto federativo tem que estar em todas as áreas', diz Edinho
Edinho Silva defende 'novo PT' e questiona 'pós-Lula'
Com evangélicos, Caiado copia Bolsonaro de 2018
Neste sábado (12), ele se reuniu com lideranças petistas em Goiânia, entre elas, a deputada federal Adriana Accorsi , favorita para comandar a sigla em Goiás, que hoje é presidida pela vereadora de Goiânia Kátia Maria. Também estavam presentes outros petistas históricos como o ex-prefeito Pedro Wilson, o ex-tesoureiro do PT nacional Delúbio Soares e o secretário-executivo de Relações Institucionais da Presidência da República, Olavo Noleto, além dos deputados Antônio Gomide, Mauro Rubem e Bia de Lima.
Edinho ressaltou a importância de, "neste momento histórico", defender a democracia e um Judiciário forte, ao ser questionado sobre proposta no Congresso Nacional de anistia aos acusados e condenados pelos ataques às sedes dos Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. "Nós não queremos a barbárie, nós não queremos o fascismo, nós queremos a democracia."
O ex-prefeito também apontou dificuldades do PT em dialogar com a nova classe trabalhadora, precarizada e conectada às plataformas digitais. Edinho falou sobre a participação popular como ferramenta de enfrentamento à crise da democracia representativa. Nesse sentido, defendeu a retomada do orçamento participativo como "bandeira identitária" do PT e valorizou os conselhos de políticas públicas como espaços fundamentais de construção democrática.
O senhor chega a Goiânia como pré-candidato à presidência do diretório nacional do PT. Como avalia esse processo de candidatura e qual é o peso de Goiás para sua eleição?
É um desafio imenso. Eu já cumpri muitas tarefas no processo de construção do PT, já fui presidente municipal, já fui vereador, fui prefeito quatro vezes, fui deputado, fui ministro de Estado, coordenei duas campanhas presidenciais da Dilma (Rousseff) e do presidente Lula, fui presidente do PT no estado de São Paulo, mas eu não tenho nenhuma dúvida que esse é o maior desafio da minha vida - que é presidir o maior partido da América Latina, numa conjuntura difícil, onde nós estamos vendo a ascensão da direita internacional.
O maior desafio do PT nesse momento histórico é derrotar o fascismo, é fazer com que a gente construa um amplo campo político inspirado na democracia. Mas para que isso aconteça, nós temos que reeleger o presidente Lula em 2026 para que ele possa continuar organizando as políticas públicas, reorganizando o governo brasileiro, para que a gente possa efetivamente ter um projeto de desenvolvimento nacional, inclusive nessa nova conjuntura econômica e política, que o Trump está forçando o mundo a se realocar, a se reorganizar."
E Goiás?
É claro que é impossível nós pensarmos o papel do PT nesse momento histórico tão difícil, sem pensarmos o papel de um estado como Goiás. Goiás é central na construção desse projeto político e eu estou muito feliz de estar aqui, muito feliz de ter oportunidade de dialogar com as nossas lideranças. Fui recebido pela nossa deputada Adriana (Accorsi), que eu espero que presida o PT aqui em Goiás, para que a gente possa fortalecer o nosso projeto e construir, fazer a construção política necessária para que a democracia avance.
Em eleições anteriores, o PT teve sempre candidatura própria. O senhor acha que é possível viabilizar uma candidatura do PT em Goiás em 2026?
Olha, eu espero que a gente faça um bom PED (processo eleitoral direto) aqui primeiro. Um PED que a gente consiga organizar o partido da melhor forma possível. Nesse processo de organização do partido, que a gente construa uma agenda que dialogue com a sociedade, e que, nesse projeto que dialogue com a sociedade, a gente consiga também dialogar com as forças políticas de Goiás.
Então, se a gente tiver uma direção forte, se essa direção for capaz de construir um projeto que entenda a complexidade política do momento, eu não tenho nenhuma dúvida que a política de alianças é natural, é decorrência desse processo. Eu tenho muita confiança nas lideranças políticas de Goiás e tenho certeza que o PT vai sair desse processo mais forte e com condições de construir uma política de alianças que dê conta da realidade da vida do povo goiano.
A política de alianças, o senhor está dizendo alianças só com os partidos de esquerda ou aliança com outras siglas?
Eu não posso dizer o que é importante para Goiás. Quem vai dizer o que é importante para Goiás é a direção do PT aqui de Goiás. O que eu vou é apoiar a decisão que for tomada aqui.
O senhor assumindo a presidência do partido nacionalmente, haveria uma deliberação maior para as eleições do ano que vem para que o PT possa fazer aliança com outras siglas?
Claro que nós vamos fazer uma construção política que dê conta do Brasil, mas eu sempre digo que quando a direção do partido é forte, a gente tem que apoiar a decisão do partido. Se nós tivermos uma direção do partido forte, se o PT estiver forte em Goiás, o papel da direção nacional é apoiar a deliberação que for tomada aqui no estado. Essa é a minha posição.
Então, uma das prerrogativas do senhor a partir desse ano, caso o senhor assuma a sigla, seria fortalecer o partido? Essa vai ser a máxima ou tem outras pretensões?
Nós temos que fortalecer o PT aqui em Goiás, sempre, porque é um estado muito importante. Não há projeto nacional sem a gente passar por Goiás. Então, se o PT estiver forte, dialogando com a sociedade goiana, construindo um projeto para o povo de Goiás, a política de alianças é consequência desse processo.
Com relação à discussão da anistia aos envolvidos nos ataques do 8 de Janeiro, em Brasília, a ministra Gleisi Hoffmann falou na semana passada em entrevista que é 'plenamente defensável' a redução das penas. Como que o senhor avalia essa fala?
A ministra Gleisi Hoffmann depois soltou uma outra nota se posicionando ou esclarecendo o seu posicionamento. Eu penso que esse debate, se há um debate a ser feito, ele tem que ser feito com o Poder Judiciário. E nós não podemos tomar nenhuma medida que enfraqueça a democracia. A defesa da democracia é fundamental nesse momento histórico que nós estamos vivendo. Então qualquer construção que se faça, primeiro tem que fortalecer a democracia, e tem que fortalecer o Poder Judiciário. Porque um Poder Judiciário enfraquecido significa a sociedade caminhando para a barbárie. Nós não queremos a barbárie, nós não queremos o fascismo, nós queremos a democracia. E para isso o Poder Judiciário tem que estar forte.
Em 2026, o governador Ronaldo Caiado já se coloca como pré-candidato à Presidência. Muito se discute a sucessão do presidente Lula. Ainda não se sabe se de fato ele será candidato...
O presidente é candidato. Ele é candidato.
Como o senhor vê esse cenário em que o PT, teoricamente, não tem sucessor de Lula no futuro? A esquerda hoje tem quadros para isso?
Eu acho que são dois debates. Em 2026, o presidente Lula é candidato. O que nós temos que debater no PT é qual o partido que nós queremos para o pós-Lula, para quando o presidente não estiver mais nas urnas. Esse é um debate que nós temos que fazer. Nós precisamos de um partido forte, onde as instâncias funcionem, que a gente tenha trabalho de organização de base. O PT em muitos lugares renunciou ao trabalho de organização de base. Nós temos que ter um partido que consiga interpretar essa nova classe trabalhadora que está se formando nesse século 21. Então, nós temos que ter um partido que dialogue com a questão da transição energética, da segurança pública, que enfrente o debate do desgaste da democracia representativa. Na minha avaliação, nós temos que recuperar o conceito da democracia, principalmente com a democracia direta, com a organização dos conselhos populares. A gente não pode abrir mão do orçamento participativo nas nossas prefeituras. Os nossos vereadores têm que continuar defendendo o orçamento participativo. Se nós tivermos um partido forte, como diz o presidente Lula, o seu sucessor será o PT. Se o PT estiver forte, organizado e em sintonia com a sociedade, o nome nós vamos construir com naturalidade.