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Pai, mãe e filho morrem de Covid-19 em Goiânia

Filho foi a primeira vítima do novo coronavírus, aos 42 anos, no dia 28. Depois morreu a mãe, aos 68, e o pai, aos 74. Apenas o casal sofria com comorbidades

Pai, mãe e filho morrem de Covid-19 em Goiânia

(Freepik)

Três pessoas da mesma família morreram em Goiânia depois de serem infectadas pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que o primeiro a falecer foi o filho de 42 anos, que não tinha nenhuma outra doença. Ele foi a óbito no dia 28 de maio. Um dia depois, morreu a mãe de 68 anos, que era cardiopata e diabética. No dia 1º de junho, faleceu o pai, 74 anos. Ele era diabético e tinha doença renal.

A SMS ressalta que este é um momento de extrema dor para a família, mas que mostra o quanto o novo coronavírus é agressivo. A pasta ainda faz alerta para o risco da infecção e que, por isso, é preciso manter o isolamento social, usar máscara em caso de precisar sair de casa e manter a distância das outras pessoas e não esquecer de higienizar as mãos com frequência.

A SMS ainda destaca que a responsabilidade pela disseminação do novo coronavírus é de todos. Na nota enviada pela pasta, diz que ainda é preciso ficar em casa, principalmente nas duas próximas semanas, que serão cruciais para a curva de contágio do Sars-CoV-2.

"É o comportamento de cada um, nos próximos 15 dias, que vai determinar quantas pessoas morrerão até o final de junho e início de julho quando, segundo estudo da UFG, deverá ocorrer o pico da doença em Goiânia", diz a nota.

Casos confirmados
Um dia após registrar o recorde de 198 casos confirmados da Covid-19, Goiânia teve 59 testes com o diagnóstico positivo para o novo agente do coronavírus nesta quarta-feira (3). Segundo o Informe Epidemiológico da SMS, a capital já registra 2.234 casos da doença.

Nas últimas 24 horas, mais duas mortes foram confirmadas na capital. Dessa forma, os óbitos acumulados chegam a 74. Entre as últimas vítimas fatais da Covid-19 em Goiânia estão três pessoas de uma mesma família: pai, mãe e filho.

O informe aponta também que Goiânia tem 190 pacientes internados pela doença na capital, sendo que 116 necessitaram de uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

Um dado positivo é que 698 pacientes já recuperaram ou estão curados da infecção. Dos 2.234 casos confirmados, 54% dos contaminados são do sexo feminino e 46% do masculino.

Em Goiânia, quase metade dos infectados (44%) tem entre 20 e 39 anos. Já 36% dos contaminados estão na faixa de 40 a 59 anos e 15% acima de 60 anos.

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Covid 5 anos: pesquisadora da UFG diz que mais crises sanitárias mundiais virão

Médica infectologista Cristiana Toscano foi a única latino-americana a integrar comitê da OMS durante a pandemia. Hoje, faz balanço dos avanços e faz alertas

Durante a pandemia, Cristiana Toscano, do IPTSP/UFG, foi a única representante da América Latina em comitê da OMS sobre imunização

Durante a pandemia, Cristiana Toscano, do IPTSP/UFG, foi a única representante da América Latina em comitê da OMS sobre imunização (Douglas Schinatto / O Popular)

No auge da pandemia da Covid-19 , a médica infectologista Cristiana Toscano, docente do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (IPTSP/UFG), foi a única latino-americana convidada a integrar o Comitê Global de Experts em Imunização da Organização Mundial da Saúde (Sage/OMS), do qual tornou-se membro permanente. Cinco anos depois, ela diz ao POPULAR que o momento é de resgatar aprendizados e de fazer um balanço dos avanços e das dificuldades do período. "Esses aprendizados podem nos ajudar, como sociedade, a nos preparar e minimizar o risco e o impacto de futuras pandemias."

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Cristiana Toscano esteve este mês em Genebra (Suíça) onde participou de reuniões da Sage/OMS para revisão das recomendações das políticas de saúde. "A questão principal é entender a importância das ações de uma instituição multilateral no contexto global de vacinação, de detecção de patógenos emergentes e de prevenção de pandemias. É preciso viabilizar a continuidade das ações da OMS." Em janeiro, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a saída do país da OMS. "Temos uma preocupação com a sustentabilidade de ações globais, como a erradicação da poliomielite e o controle do sarampo, mas outras fontes de financiamento devem surgir. É uma questão de reorganização", afirma a pesquisadora.

A cientista acredita que novas epidemias e pandemias são inevitáveis. "No Brasil, vivemos em 2024 a maior epidemia de dengue do País, tivemos a introdução da Mpox, grande aumento e disseminação da febre do Oropouche e novos focos de febre amarela com aumento significativo de casos. Globalmente, temos o evento de gripe aviária H5N1, já disseminada entre mamíferos e aves, com risco real de ser transmissível entre humanos", lembra. Cristiana Toscano reitera que, em contrapartida, há novas vacinas disponíveis e em desenvolvimento, como os imunizantes contra a dengue, contra o vírus sincicial respiratório e ainda contra a chikungunya, que deve ser licenciada em breve.

Para a pesquisadora, a Covid-19 matou muita gente no Brasil e no mundo, "mas o número poderia ter sido muito maior se não fossem as medidas de saúde pública e os desenvolvimentos científicos que avançaram rapidamente no período". A cientista ressalta que, para fazer frente aos desafios impostos por esses eventos, é necessário dar continuidade às estratégias e ações de monitoramento de riscos, prevenção, controle e combate a futuros eventos epidêmicos e pandemias para não reativar uma vez mais a crise sanitária. "Em um mundo globalizado, as estratégias de prevenção e controle de doenças requerem ações coordenadas e globais." Isso significa um sistema eficiente de monitoramento, de compartilhamento de informações, equipes treinadas e disponíveis, colaboração entre países e recursos financeiros.

"Ações de prevenção, como a vacinação, evitam milhões de mortes no mundo a cada ano. No entanto, seu impacto torna-se irrelevante se as vacinas não forem epidemiologicamente adequadas às populações que atendem, não forem aceitas pelas comunidades ou não forem efetivamente distribuídas por meio de programas rotineiros ou campanhas de imunização em massa. Os programas de imunização sempre enfrentaram ameaças -- desde a instabilidade política até a desinformação --, desafios que estão se tornando cada vez mais graves no cenário global atual", enfatiza Cristiana Toscano. A docente do IPTSP/UFG vai integrar o grupo de trabalho (GT) anunciado esta semana pelo Ministério da Saúde para elaborar propostas que ampliem a capacidade do País de enfrentar emergências de saúde pública.

No ano passado, Cristiana Toscano recebeu a Medalha de Mérito Oswaldo Cruz, a maior honraria na área da saúde, em reconhecimento à sua contribuição para a saúde pública brasileira. Em 2025, assumiu a coordenadoria do recém-criado Centro de Excelência em Tecnologia e Inovação em Saúde (Ceti-Saúde) da UFG. Um dos objetivos do GT do Ministério da Saúde é propor a criação de uma Agência de Inteligência em Emergências de Saúde Pública no Brasil, uma ideia defendida por vários cientistas, entre eles Cristiana Toscano. As propostas do GT serão apresentadas em relatório num prazo de 60 dias.

Gabriela Duarte, do IQ/UFG: responsável pelos testes rápidos para a Covid-19 em Goiás ( Wesley Costa / O Popular)

Gabriela Duarte, do IQ/UFG: responsável pelos testes rápidos para a Covid-19 em Goiás ( Wesley Costa / O Popular)

Fapeg investiu em estudos sobre a Covid-19

A ciência foi a grande protagonista da pandemia da Covid-19, maior crise sanitária mundial desde a gripe espanhola em 1918, que matou de 50 milhões a 100 milhões de pessoas -- o que seria 3% da população do planeta à época. Apesar das semelhanças entre as doenças, mais de cem anos depois, num mundo globalizado, estruturas acadêmicas e cientistas se mobilizaram com rapidez impressionante para conter o Sars-CoV-2 e suas variantes. Uma vacina eficaz surgiu em nove meses. As farmacêuticas Pfizer -- em parceria com a BioNtech -- e Moderna usaram o RNA mensageiro sintético (m-RNA), mecanismo que já era estudado. Em 2023, os criadores da fórmula, Katalin Karikó e Drew Weissman, receberam o Prêmio Nobel de Medicina.

No Estado, o movimento não foi diferente. Logo que a pandemia chegou, em 2020, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) fez uma Chamada Emergencial para buscar soluções pela ciência. Treze propostas foram aprovadas e outras três pelo Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS). Entre os estudos, dois coordenados por professoras doutoras da UFG: o que definiu o teste rápido RT-Lamp, tendo à frente Gabriela Mendes Duarte, do Instituto de Química (IQ); e o que sequenciou o genoma do vírus Sars-CoV-2 em circulação por Goiás, sob a responsabilidade de Mariana Pires de Campos Telles, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG e também da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Entre 2020 e 2024, a Fapeg financiou 27 projetos relacionados à Covid-19, superando R$ 2 milhões em investimento.

Público tem acesso a acervos digitais

As gerações futuras terão dificuldade para entender o que foi a pandemia da Covid-19. Desde que ela foi oficialmente anunciada, a OMS estima que o vírus Sars-CoV-2, causador da doença, provocou mais de 777 milhões de infecções e matou mais de 7 milhões em todo o mundo, embora especialistas acreditem que esse número possa ser muito maior. No Brasil foram mais de 700 mil mortes e em Goiás, em torno de 29 mil. O isolamento social obrigatório em razão da crise sanitária foi um golpe na saúde mental.

Em Goiás, gestores da Secretaria de Estado da Saúde elaboraram em 2022 o e-book Gestão e Inovação em Tempos de Pandemia -- Um relato da experiência à frente da SES-GO , em que detalham as estratégias adotadas para enfrentar o vírus devastador, um desafio gigantesco que exigiu esforço hercúleo e rendeu uma série de aprendizados. O trabalho tem acesso público pelo link: https://goias.gov.br/saude/wp-content/uploads/sites/34/2024/01/Ebook-5-versao-atualizada.pdf.

Em nível nacional, o Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (SoU_Ciência) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) lançou este mês o Acervo da Pandemia de Covid-19 , um repositório digital gratuito e aberto ao público, que reúne um extenso conjunto de materiais que, segundo a instituição, evidenciam condutas e discursos negacionistas de agentes públicos e privados durante a pandemia de covid-19 no Brasil (2020-2022). O projeto tem parceria com a Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico Brasil), com o Centro de Estudos de Direito Sanitário da Universidade de São Paulo (Cepedisa/USP), com o grupo de mídia independente Camarote da República e com o podcast Medo e Delírio em Brasília.

O SoU_Ciência é um grupo de pesquisa multidisciplinar cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sediado na Unifesp. O projeto Acervo da Pandemia contou com a participação de pesquisadores e estudantes das universidades federais de São Paulo e do Rio de Janeiro (Unifesp e UFRJ) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que integram o SoU_Ciência.

A Universidade Federal de Goiás (UFG) contribui com o Acervo da Pandemia por ter apoiado o desenvolvimento do software livre Tainacan pelo Laboratório de Inteligência de Redes da Universidade de Brasília (UnB) utilizado no projeto. O Tainacan, que nasceu também com o suporte do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia e do Instituto Brasileiro de Museus, é muito usado para a gestão e compartilhamento de acervos.

Para acessar o Acervo da Pandemia : https://acervopandemia-souciencia.unifesp.br/

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Ex-secretário de Saúde de Pires do Rio que furou fila da vacina da Covid é condenado a pagar R$ 30 mil por danos morais

A esposa dele e um casal também foram vacinados mesmo não fazendo parte do grupo prioritário, segundo o Ministério Público de Goiás. Cabe recurso da decisão

Assis Silva Filho, ex-secretário de Saúde de Pires do Rio

Assis Silva Filho, ex-secretário de Saúde de Pires do Rio (Reprodução/Redes sociais)

O ex-secretário de Saúde de Pires do Rio, Assis Silva Filho, foi condenado a pagar R$ 30 mil por danos morais coletivo por furar a fila da vacina contra a Covid-19 em 2021. Segundo o Ministério Público de Goiás (MP-GO), a esposa dele e um casal também foram vacinados mesmo não fazendo parte do grupo prioritário. Cabe recurso da decisão.

Este valor atende aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, sendo suficiente para compensar o dano e atender ao caráter pedagógico da medida", diz um trecho do acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO).

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O POPULAR entrou em contato com a defesa de Assis, por e-mail enviado às 13h25, para pedir um posicionamento sobre o caso, mas não obteve retorno.

De acordo com a ação civil pública proposta pelo MP-GO, ao determinar as imunizações, o ex-secretário "agiu em desrespeito com os planos nacional e estadual de imunização que vigoravam naquela ocasião em razão da pandemia".

Isso porque a primeira fase da vacinação no município era destinada exclusivamente aos profissionais da saúde que atuavam na linha de frente do combate à Covid-19, idosos institucionalizados e funcionários de instituições de longa permanência para idosos e nenhum dos vacinados por ordem do ex-secretário se enquadrava nestes critérios.

O valor inicial da indenização era de R$ 50 mil, mas foi reduzido no julgamento do recurso no dia 12 deste mês seguindo o voto da relatora, desembargadora Roberta Nasser Leone.

Relembre o caso

O caso aconteceu em janeiro de 2021 e ganhou notoriedade quando Assis publicou um vídeo pedindo desculpas por ter determinado a vacinação da esposa, que não fazia parte dos grupos prioritários conforme determinação do Ministério da Saúde. "Peço a [Deus], imploro a ele que aceite minhas escusas", diz ele no vídeo, ao lado da esposa. "Foi com o intuito apenas de resguardar e preservar a saúde e a vida da mulher da minha vida", completa.

O ex-secretário também justificou que a esposa tinha mais de 70 anos e costumava acompanhá-lo nos trabalhos de visitas que fazia às unidades de saúde do município. No entanto, as diretrizes do Ministério da Saúde não listam idosos que não estejam institucionalizados nesta primeira fase do programa de imunização.

Exoneração

No dia 24 de janeiro, Assis pediu exoneração do cargo. Ao pedir para sair do cargo, ele disse que a decisão era de caráter irrevogável, irretratável e de cunho pessoal. O pedido foi acatado pela então prefeita do município Cida Tomazini.

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Post engana ao afirmar que estudo concluiu que as vacinas contra a covid-19 não são seguras

Post engana ao afirmar que um estudo com 99 milhões de vacinados concluiu que as vacinas contra a covid-19 não são seguras para os humanos. A pesquisa buscou sinais de segurança para eventos adversos raros e os identificou para doenças que já eram conhecidas. Os resultados confirmam que as vacinas são seguras e ressaltam que o risco de complicações é maior após a infecção pelo vírus do que pela vacinação

Post engana ao afirmar que estudo concluiu que as vacinas contra a covid-19 não são seguras

(Projeto Comprova)

Conteúdo investigado: Post com a afirmação de que o maior estudo de segurança das vacinas contra a covid-19, envolvendo 99 milhões de indivíduos, confirmou que as injeções não são seguras para uso humano.

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Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: O post engana ao afirmar que o estudo Global Vaccine Data Network (GVDN), com 99 milhões de indivíduos vacinados, estimou a probabilidade de desenvolver problemas de saúde após vacinação contra a covid-19 com os imunizantes Pfizer, Moderna e Astrazeneca. Também não é verdadeiro que a pesquisa concluiu que as vacinas não são seguras.

Conforme uma das autoras, Helen Petousis-Harris, co-diretora da GVDN e professora da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, as declarações não fazem sentido porque o estudo sequer estimou a probabilidade dos riscos. Além disso, o conjunto de evidências mostra que os imunizantes analisados são muito seguros e que eventos adversos graves são muito raros.

O estudo não é capaz de comprovar a associação entre as vacinas e os eventos adversos identificados. A autora explica que foram procurados sinais de segurança em uma série de eventos raros e que a metodologia utilizada é altamente sensível e projetada para detectar sinais para acompanhamento posterior. "(O estudo) ajuda a gerar hipóteses para teste", afirmou ao Comprova. Ou seja, para estabelecer relação causal (na qual um fenômeno é efeito de outro) são necessárias outras pesquisas.

A análise multipaíses confirmou sinais de segurança que já eram pré-estabelecidos para miocardite, pericardite, síndrome de Guillain-Barré e trombose do seio venoso cerebral, doenças citadas no post. O estudo conclui que os sinais identificados devem ser avaliados no contexto de sua raridade, gravidade e relevância clínica.

Os autores acrescentam que as avaliações gerais de risco-benefício da vacinação devem levar em consideração o risco associado à infecção, pois vários estudos demonstraram maior risco de desenvolver os mesmos eventos após a infecção pelo vírus do que pela vacinação.

Essa observação foi destacada pelo infectologista Unaí Tupinambás, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), consultado pelo Comprova. "A pesquisa mostra que as vacinas são seguras e que o risco destes eventos acontecerem com a infecção pelo vírus é muito maior".

A imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), afirma que a principal conclusão do estudo é que o risco de síndrome de Guillain-Barré após infecção pelo vírus é maior que pela vacina. "O estudo confirmou todas as evidências de segurança por vacina que já existiam antes".

Não foi possível contatar o autor do post porque o perfil dele no X não oferece a opção de enviar mensagem direta.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post checado alcançou 64,1 mil visualizações até o dia 20 de março, além de 75 respostas, 265 compartilhamentos e 797 curtidas.

Fontes que consultamos: O estudo citado no post, uma das autoras e dois especialistas, uma doutora em imunologia e um doutor em infectologia.

O que diz o estudo

Publicado em 2024 na revista Vaccine, o estudo teve o objetivo de avaliar o risco de 13 eventos adversos de interesse especial após a vacinação contra a covid-19 em 10 locais de oito países. Para isso, incluiu dados de pouco mais de 99 milhões de indivíduos vacinados. No total, foram avaliadas 183,5 milhões de doses administradas pela Pfizer, 36,1 milhões de doses da Moderna e 23 milhões da Astrazeneca.

A metodologia utilizada foi Observacional versus Esperado. Nessa modalidade, é comparada a taxa de doença ou outros resultados de saúde em pessoas vacinadas com o esperado a partir de taxas populacionais ou dados epidemiológicos estabelecidos antes da vacina estar disponível. Foram considerados eventos adversos ocorridos até 42 dias após a imunização com produtos de mRNA (Pfizer e Moderna) e vetor de adenovírus (Astrazeneca).

Os autores apontaram que o risco após a vacinação foi geralmente semelhante ao risco de fundo para a maioria dos resultados. No entanto, alguns sinais de segurança potenciais foram identificados. Em relação à síndrome de Guillain-Barré e trombose do seio venoso cerebral, os autores observaram sinais de segurança potenciais após a primeira dose de Astrazeneca.

Isso não é novidade. A pesquisa lembra que, no geral, estudos de vacinas baseadas em vetores observaram uma maior incidência de síndrome de Guillain-Barré. Embora rara, a associação foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras entidades como um efeito colateral raro após a exposição a este imunizante. O risco aumentado de trombose do seio venoso cerebral também foi corroborado por vários estudos anteriores. Esse sinal de segurança também é raro, embora preocupante, por isso levou à retirada da vacina Astrazeneca de programas de vacinação contra a covid-19 ou à implementação de restrições baseadas na idade em vários países.

Também foram observados riscos significativamente maiores de miocardite após a primeira, segunda e terceira doses de Pfizer e Moderna, bem como pericardite após a primeira e quarta doses de Moderna. Desta forma, o estudo confirma os achados de casos raros previamente identificados dessas duas condições. Dadas as evidências, entidades como a OMS emitiram orientações atualizadas sobre esses sinais de segurança.

Mais um sinal de segurança potencial foi identificado para encefalomielite aguda disseminada após a primeira dose da vacina Moderna. O estudo destaca que o número de casos desse evento raro foi pequeno e o intervalo de confiança amplo, portanto, os resultados devem ser interpretados com cautela e confirmados em estudos futuros.

Embora alguns relatos de casos tenham sugerido uma possível associação entre a vacinação e o problema, não foi confirmado um padrão consistente em termos de vacina ou tempo após a vacinação. Estudos epidemiológicos maiores não confirmaram nenhuma associação potencial. A pesquisa lembra que relatos de casos podem citar eventos coincidentes e não estabelecer associação nem indicar causalidade, portanto, estudos observacionais maiores são necessários para investigar melhor essa descoberta.

A pesquisa foi desenvolvida pela GVDN, uma rede de pesquisa multinacional que utiliza conjuntos de dados para ajudar a garantir a segurança e o risco-benefício das vacinas por meio do monitoramento dos imunizantes. O monitoramento foi conduzido pelo programa Global COVID Vaccine Safety (GCoVS), que é financiado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Participaram especialistas da Dinamarca, Nova Zelândia, Austrália, Argentina, Canadá, Escócia, França, Finlândia, China e Estados Unidos.

Limitações apontadas pelos pesquisadores

Os autores do estudo destacam a necessidade de uma investigação mais aprofundada para confirmar associações e avaliar a significância clínica dos efeitos adversos.

Múltiplas limitações são apontadas no próprio documento pelos autores, principalmente porque as análises envolvem heterogeneidade na coleta de dados, qualidade e padrões de relatórios entre os países. Essas diferenças na infraestrutura de saúde e sistemas de vigilância podem introduzir viés e afetar a comparabilidade dos resultados.

As análises multipaíses também são suscetíveis a fatores de confusão populacional, como diferenças em condições de saúde preexistentes, fatores genéticos, perfis étnicos e padrões comportamentais. "Taxas de histórico específicas de idade e sexo que não são ajustadas para fatores como doença anterior podem não fornecer uma comparação adequada, por exemplo, nos estágios iniciais de uma campanha de vacinação em que pessoas com comorbidades foram vacinadas antes de outros grupos populacionais", explica o documento.

O que dizem os especialistas

A imunologista Cristina Bonorino observa que o principal problema da análise é que, em certo ponto, não há mais controle sobre quem tomou a vacina e também teve a infecção. "Eu separaria esse dado, mas um estudo grande assim não tem como ter esse controle. O problema deste estudo é conceitual -- ele inclui pessoas que tiveram covid e se vacinaram -- porque pegaram as amostras dos registros de saúde dos países e as informações não foram separadas, principalmente de pessoas internadas que deviam ter as duas coisas (vacinação e infecção pela doença)".

Ao analisar o post checado, ela diz que o autor inventa números que não estão nas conclusões do estudo e destaca que ele confirmou as evidências de segurança por vacina que já existiam antes. Como exemplo, cita que quando os pesquisadores quebraram a análise entre vacinas, identificou-se risco maior da síndrome após a vacina Astrazeneca, o que já se sabia. "Vacinas com adenovírus têm esse risco mesmo".

O infectologista Unaí Tupinambás diz que o estudo mostrou o contrário do que é alegado no post ao destacar que o risco destes eventos acontecerem com a infecção pelo vírus é muito maior que pelas vacinas.

Conforme ele, estudos apontam que o risco de eventos neurológicos -- como no caso da síndrome de Guillain-Barré -- após uma infecção aguda pelo coronavírus pode ser até 617 vezes maior do que após a vacinação contra a covid-19, reforçando que os benefícios da imunização superam amplamente os riscos.

Além disso, destaca, outros levantamentos estimaram que o número de casos adicionais de miocardite varia entre 1 e 10 por milhão de pessoas no mês seguinte à vacinação, um número significativamente inferior aos 40 casos extras por milhão registrados após a infecção pela doença.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outros posts distorcendo o mesmo estudo foram desmentidos por Uol Confere, Estadão Verifica (1 e 2), AFP e FactCheck.org. O Comprova também já verificou conteúdos que desinformam sobre outros estudos envolvendo as vacinas, demonstrando ser falso que pessoas vacinadas tenham o dobro de chances de pegar covid e que um artigo que exige retirada dos imunizantes contra covid-19 do mercado tem erros e não é relevante no meio científico.

Notas da comunidade: Até a publicação desta verificação, não havia notas da comunidade publicadas junto ao post no X.

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Há 5 anos, OMS declarou pandemia: Brasil tinha futebol lotado e Bolsonaro minimizava o vírus

Em 24 de março, no início da crise sanitária, o então presidente chamou o coronavírus de 'gripezinha'

Teste rápido de Covid-19 em Goiás

Teste rápido de Covid-19 em Goiás (Wildes Barbosa/O Popular)

Há cinco anos, as oitavas de final da Champions League, maior campeonato de futebol da Europa, aconteciam em Paris com as portas fechadas ao público. No mesmo dia, no Maracanã, 60 mil pessoas se aglomeraram para assistir a uma vitória do Flamengo na Libertadores.

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Os jogos aconteceram em 11 de março de 2020, dia em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou oficialmente o início da pandemia da Covid-19. O vírus já circulava no Brasil, mas apenas 69 casos tinham sido confirmados até aquele momento ---e a primeira morte ocorreria no dia seguinte, em São Paulo.

As duas situações contrastantes mostram os diferentes estágios do vírus ---e as diferentes respostas políticas--- no mundo. A Europa e os Estados Unidos, onde o coronavírus já circulava em larga escala e fazia crescer o número de mortos, já tomavam medidas para evitar o contágio, restringindo viagens e promovendo lockdowns.

No Brasil, o então presidente Jair Bolsonaro (sem partido à época), iniciava a retórica que marcaria seu mandato e a resposta brasileira à Covid.

Em 2020, a doença mataria quase 195 mil brasileiros e, em 2021, enquanto o resto do mundo já vacinava sua população e reabria fronteiras e comércios, morreriam mais de 424 mil brasileiros, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

Rapidamente foi perceptível que a postura brasileira seria o negacionismo", afirma Deisy Ventura, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo).

No dia 9 de março, Bolsonaro afirmou em evento esvaziado em Miami, nos EUA, que o coronavírus estava sendo superdimensionado e culpou a mídia.

Apesar das declarações de Bolsonaro, os primeiros sinais de atuação davam a entender que haveria uma preocupação com o vírus: a repatriação dos brasileiros em Wuhan, na China, epicentro da Covid no início do surto; e, em fevereiro, a declaração de emergência sanitária pelo então ministro da Saúde, Henrique Mandetta. Na Educação, o então ministro Abraham Weintraub já admitia a possibilidade de transferir as aulas para o modelo remoto, o que de fato aconteceu na semana seguinte, em 17 de março.

O governo dava orientações contraditórias no início da crise. No dia seguinte à declaração da OMS, Bolsonaro apareceu de máscara em sua live semanal e desencorajou apoiadores a fazerem manifestações previstas em seu favor, afirmando que a população deveria evitar que o vírus se espalhasse.

No dia 16 de março, porém, Bolsonaro publicou um decreto mudando a coordenação da resposta à pandemia para a Casa Civil, comandada pelo general Braga Netto.

A partir daí, o Ministério da Saúde perdeu o controle da resposta à pandemia", diz Ventura. "A gente vê um processo absolutamente documentado, por normas e também por atos de gestão, de transferência da cadeia de comando do Ministério da Saúde, até o esvaziamento completo."

O tom das declarações de Bolsonaro também aumentaria conforme o agravamento da pandemia. Em 24 de março, ele já chamava a Covid-19 de "gripezinha", expressão que virou emblema de como o governo federal respondeu à crise sanitária ---o presidente chegou a negar que tenha usado a palavra, embora haja ao menos dois registros em vídeo.

Globalmente, diz a professora da USP, o mundo também enfrentava dificuldades na resposta ao vírus em razão da presidência de Donald Trump nos Estados Unidos. O republicano, que estava em seu primeiro mandato à frente da Casa Branca, atuou contra mecanismos internacionais de combate à pandemia, como a própria OMS. "Ele não foi tão violento quanto agora no seu segundo mandato, mas restringiu recursos para a cooperação internacional em saúde", diz Ventura.

Em março de 2020, o mundo acompanhava assustado a Itália se tornar o polo de mortes da Covid. Histórias como a da mulher que ficou dias presa em casa com o corpo do marido, morto pela doença, por causa de uma regra de quarentena, chegavam aos jornais brasileiros. O país europeu, que tem uma das populações mais idosas do continente, começou a bater recordes de mortes, chegando a 919 diárias em 27 de março. Até 4 de abril, havia registrado cerca de 15 mil vítimas da doença.

No Brasil, o pico de mortes da Covid viria em 2021, em meio à recusa do governo federal na compra de vacinas e ao atraso generalizado na aplicação do imunizante. No dia mais letal, 6 de abril de 2021, foram registrada 4.211 mortes.

A professora da USP afirma que houve, na verdade, uma estratégia de disseminação intencional da doença durante a gestão Bolsonaro, com o objetivo de estabelecer a "imunidade de rebanho". A ideia, que foi tema recorrente de fala do então presidente, é a de que a circulação do vírus e as mortes parariam quando uma alta porcentagem da população tivesse tido a doença.

É a mesma lógica, na verdade, por trás da vacinação. A diferença é que no segundo caso a imunidade de rebanho é atingida sem que haja contração da doença, o que diminui drasticamente o número de mortes.

Como afirmou o infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), à Folha de S.Paulo, em dezembro de 2024, "todas as pandemias terminam da mesma forma, com o atingimento de uma boa imunidade populacional. A diferença é que você pode atingir isso com milhares de mortes ou milhões de mortes".

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