Caiado resiste a federação com o PP por entraves a projeto eleitoral
Governador aponta dificuldade em lidar com os interesses das lideranças pepistas e quer que debate interno no UB ocorra “sem pressa”

Fabiana Pulcineli

Governador Ronaldo Caiado na reunião da bancada do UB na Câmara: convite para lançamento da pré-candidatura a Presidência (União Câmara 44)
Com receio de que a federação entre União Brasil (UB) e Progressistas (PP) dificulte ainda mais seu projeto de disputar a Presidência da República em 2026 , o governador Ronaldo Caiado (UB) tem manifestado internamente resistências ao acerto, que teve o primeiro passo dado na noite de terça-feira (18), com aprovação por parte do PP. Em contatos com parlamentares e com a direção nacional de seu partido, Caiado se mostra contrário à federação.
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Entre os argumentos do governador e aliados estão a falta de consenso sobre os projetos para 2026 (presidencial e nos Estados); e a dificuldade em lidar com os interesses das lideranças do PP, como Ciro Nogueira, presidente nacional da legenda, e Arthur Lira, ex-presidente da Câmara. Há incertezas sobre qual seria a posição majoritária na federação e desconfiança de que Ciro articula para ser vice em uma possível candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à Presidência, o que inviabilizaria candidatura própria da federação.
Caiado já enfrenta posições desfavoráveis dentro do próprio UB, com uma ala - que ocupa ministérios - defendendo aliança com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outra favorável a seguir as ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Com a vinda do PP, seria mais um amplo grupo de lideranças com diversos pontos de vista.
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O presidente nacional do UB, Antonio Rueda, avisou aos correligionários no início desta semana que consultaria as bancadas de parlamentares de cada estado e as principais lideranças, incluindo o governador goiano e o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel. Apesar de dizer oficialmente que tomará decisão após posicionamento da maioria, Rueda estaria articulando a federação nos bastidores, segundo informações de parlamentares.
Já Caiado defendeu a correligionários que o UB ainda se recupera de "traumas" da fusão do DEM com o PSL (em 2022) e que o debate interno deve ocorrer "sem pressa", de forma alongada. Enquanto isso, Ciro Nogueira afirma que Rueda ficou de dar uma resposta até esta sexta-feira (21).
Segundo parlamentares ouvidos pelo POPULAR , o clima entre a maioria dos deputados dos dois partidos é favorável à união, já que teriam a maior bancada na Câmara (109, sendo 59 do UB e 50 do PP) e fortaleceriam os projetos de reeleição no Legislativo.
Apesar das articulações de Caiado, apenas uma parlamentar dos quatro que pertencem aos dois partidos em Goiás diz ter posição contrária à federação: a deputada Silvye Alves.
Adriano do Baldy, único pepista da bancada de Goiás, votou favorável ao acerto na terça. O presidente do PP goiano, Alexandre Baldy, que é também auxiliar do governo (presidente da Agência Goiana de Habitação), diz que ele e Adriano se posicionaram inicialmente de forma contrária, mas foram "convencidos" na reunião de que a federação é um caminho "espetacular".
Na bancada do UB de Goiás, José Nelto afirma ser favorável ao acordo e Zacharias Calil diz ainda não ter decidido, e aguarda conversa com Rueda. "Eu acho positivo que haja um enxugamento do número de partidos, mesmo que seja dessa forma, de atuação conjunta. Mas também entendo que o projeto do governador pode ser prejudicado. Vou definir meu voto depois de conversar com o presidente nacional", afirma Zacharias.
Silvye, que viajou a Brasília na terça em avião com o governador, disse que aguarda a reunião para tratar oficialmente a proposta, mas que já se posiciona de forma contrária. "Essa federação não agregará em nada em Goiás, onde o União Brasil tem o apoio de mais de 200 prefeituras. Nacionalmente poderá dividir o partido, já que não sabemos para qual lado a maioria irá", diz, completando que considera um risco para a candidatura de Caiado por conta das lideranças do PP.
O POPULAR tentou ouvir diretamente o governador sobre a proposta, mas não conseguiu resposta da assessoria. Em evento em Goiânia na tarde de quarta-feira, ele não deu entrevista.
Bancada
Poucas horas antes da votação do PP que decidiu posição favorável à federação com o UB, Caiado participou de reunião com a bancada de seu partido na Câmara dos Deputados, quando falou do lançamento da pré-candidatura a Presidência , marcado para 4 de abril em Salvador (BA) e de pautas que ele considera prioritárias para o partido.
Dos 59 parlamentares da sigla, apenas 8 postaram nas redes sociais menções à presença de Caiado na reunião, o que sinaliza a dificuldade de aglutinar apoio dentro do próprio partido.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (UB-AP), não estará presente em Salvador, assim como outros mandatários da sigla. Nesta quarta-feira (19), o cantor Gusttavo Lima anunciou que não será candidato a cargo eletivo em 2026 e que não deve comparecer ao evento, como Caiado havia anunciado.
Em entrevista na terça-feira, divulgada pela IstoÉ, o governador minimizou a disputa interna no UB para as eleições presidenciais. "É um pré-projeto (o evento em Salvador) para chegar a 2026. Não existe isso de que o partido está fechado com A ou B. É um processo democrático, aberto. Quem tiver maior capacidade, vai chegar em condições de ser candidato", afirmou Caiado.
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