A Prefeitura de Goiânia e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) foram condenadas a indenizar alunos e mães por danos morais após dois guardas jogarem spray de pimenta dentro de uma escola da capital em 2022. Segundo as defesas das famílias, os alunos, com idades entre 11 e 14 anos, também foram agredidos verbal e fisicamente e sofreram pressões psicológicas. O documento que O POPULAR teve acesso foi publicado na quinta-feira (10) e diz que cada aluno deve receber R$ 15 mil e cada mãe R$ 10 mil, totalizando R$ 455 mil. Cabe recurso da decisão.
Os guardas municipais adentraram a escola e jogaram gás de pimenta, agrediram as crianças com mangueira e outros objetos, ameaçaram elas, causaram um tumulto generalizado, sendo que as mães foram contatadas pelos menores e tiveram que ir para o colégio desesperada para cuidarem dos filhos. Há crianças com sequelas psicológicas até hoje", informou o advogado Fernando Barcelos, que representa 19 famílias juntamente com o advogado Cicero Goulart.
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Em nota, a Prefeitura de Goiânia e a GCM informaram que ainda não foram notificadas da decisão.
Como os nomes dos guardas municipais não foram divulgados, O POPULAR não conseguiu localizá-los para que se posicionassem.
Entenda o caso
O caso aconteceu no dia 3 de maio de 2022, na Escola Municipal Professora D'Alka Leles , no Residencial Orlando de Morais. À época, funcionários disseram que equipes da GCM estavam realizando, há alguns dias, rondas na porta da unidade para evitar brigas de alunos. Vídeos obtidos pelo O POPULAR mostram alunos passando mal e sendo atendidos após a situação (assista acima).
Meu filho foi agredido com mangueira e spray de pimenta quando tinha 14 anos. Para mim é muito difícil falar ainda sobre isso. A condenação gera alívio. Justiça feita", disse Rosângela da Silva Viana, mãe de um dos alunos, em entrevista ao POPULAR.
O POPULAR mostrou que a confusão teve início por volta das 9h30. Pouco antes desse horário, a direção da unidade e a Secretaria Municipal de Educação (SME) haviam convidado a corporação para uma "palestra sobre civismo", conforme a GCM. Já nas dependências da escola, presenciando uma briga no banheiro masculino, os agentes levaram cerca de 110 estudantes para a quadra de esportes, local em que as confusões saíram do controle.
Uma estudante ouvida pelo POPULAR disse que andava pelos corredores com uma amiga quando recebeu a ordem de ir para a quadra. "Chegando lá, quando os agentes começaram a falar, alguns dos meninos ficaram gritando, fazendo som de sirene", informou a menina à época com 13 anos.
Segundo ela, um dos estudantes foi confrontado por um guarda sobre o barulho, momento em que os demais estudantes começaram a emitir os mesmos sons, iniciando a confusão generalizada.
Além dos barulhos, a GCM disse que parte das crianças estava com paus e pedras nas mãos. Por conta disso, a Guarda afirma que precisou fazer o "uso seletivo da força" para evitar que os estudantes se ferissem. Os estudantes ouvidos, porém, dizem que não se recordam de nenhum colega com pau ou pedra nas mãos.
Com a confusão, um dos guardas teria começado a gritar com as crianças e adolescentes, momento que antecedeu o uso do spray de pimenta, que segundo a Guarda, foi jogado em direção ao chão e não diretamente nos alunos.
Os estudantes dizem que viram pelo menos três jatos de spray de pimenta, que teriam sido jogados entre eles enquanto estavam enfileirados. Neste momento houve muita correria. Funcionários que buscavam proteger as crianças trancaram várias delas em salas de aula.

Viatura da GCM estacionada na porta da Escola Municipal Professora D'Alka Leles, no Residencial Orlando de Morais (Reprodução/TV Anhanguera)
Socorro
Ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e do Corpo de Bombeiros estiveram na escola e fizeram o socorro por conta dos efeitos do gás. Apesar do relato de ardência nos olhos e no sistema respiratório, nenhum dos estudantes precisou ser levado para o hospital.
Ação coletiva
Pais e responsáveis pelos estudantes denunciaram os guardas por abuso de autoridade. Na ação, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) concluiu que "houve abalo psíquico grave e direto aos menores, bem como dano moral reflexo (ricochete) aos pais", recomendando a indenização tanto aos alunos quanto aos genitores.
A Prefeitura de Goiânia contestou a ação coletiva alegando que houve ausência de provas e foi feita a abertura de sindicância, arquivada por ausência de irregularidades. "Ressalta que o dano moral não é presumido e que o pedido indenizatório é desproporcional", disse o município.
A juíza Simone Monteiro acatou o parecer do MP-GO e reconheceu a relação entre a atuação da GCM e os danos causados aos alunos. "Assim, estando configurado o nexo causal entre a atuação dos agentes públicos e os danos sofridos pelas vítimas, impõe-se o reconhecimento da responsabilidade civil objetiva do Município de Goiânia, nos moldes constitucionais e legais", afirmou a juíza.
Recurso
O advogado afirmou que também está estudando a possibilidade de ingressar com recurso pedindo ao Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) que as indenizações sejam aumentadas para R$ 50 mil para cada aluno e R$ 10 mil aos genitores, como núcleo familiar, por lesão direta ou mesmo reflexo.