Estudo fará raio-X da saúde dos kalungas
Fapeg financia pesquisa de instituições lideradas pela Faculdade de Enfermagem da UFG para avaliar condições da população quilombola do Nordeste goiano
Malu Longo

Comunidade Kalunga será foco de investigação científica fomentada pela Fapeg para avaliar condições de saúde e agravos sanitários (TJGO)
As condições de saúde e agravos sanitários da população do Território Kalunga na região Nordeste do Estado serão avaliadas pela Faculdade de Enfermagem (FEN) da Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio de convênio firmado com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), que destinou R$ 2,5 milhões para a investigação científica. A iniciativa é comemorada dentro do rol de ações que celebram o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, data que em 2024, pela primeira vez, será lembrada com um feriado em Goiás.
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À frente dos trabalhos estão as professoras Sheila Araújo Teles e Karlla Caetano, que integram o Núcleo de Estudos Epidemiológicos em Cuidados com Agravos Infecciosos com ênfase em Hepatites Virais (Necaih), da FEN. As atividades serão executadas em parceria com a Secretaria Estadual da Saúde (SES-GO) e com as pesquisadoras Megmar Carneiro e Regina Bringel, do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da UFG. O estudo conta ainda com a colaboração de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade da Flórida (EUA). Os resultados completos da pesquisa serão conhecidos em cinco anos e subsidiarão políticas públicas para a região.
Segundo a Associação Quilombola Kalunga (AQK), as 39 comunidades do território quilombola que abrange os municípios de Cavalcante, Teresina e Monte Alegre de Goiás abrigam 8,4 mil pessoas. O último Censo apontou uma população de 3,6 mil pessoas, indicador que será utilizado pelos pesquisadores. "Nossa pesquisa já foi aprovada pela AQK e o levantamento populacional feito pela associação será avaliado, mas nosso estudo será feito de forma probabilística, com 1,8 mil pessoas. O objetivo é trazer dados precisos da população como um todo. A maioria dos estudos sobre essa população, por conta das dificuldades geográficas, abrange localidades mais próximas aos centros urbanos", afirma Sheila Teles.
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A coleta de dados nas comunidades se iniciará no fim de março, após o período chuvoso. Sheila Teles explica que o estudo envolve várias doenças, como hepatites virais (A, B, C, D e E); infecções sexualmente transmissíveis (sífilis, herpes, HPV, HIV etc.); doenças negligenciáveis (Chagas, hanseníase e leishmaniose); além da avaliação do consumo de álcool e cobertura vacinal das crianças. Há 20 anos, o Necaih fez um estudo na região quando foi observada uma alta prevalência de hepatite B e muita gente infectada com o vírus da hepatite A. "Com as mudanças, como a implementação das vacinas contra as hepatites A e B e a entrada do turismo na região, o que mudou? Qual foi o impacto em relação à hepatite C, que em 2004 não estava presente?"
Essas e outras respostas relativas a doenças nunca estudadas na comunidade Kalunga são o que Necaih espera obter de forma absoluta em 2029. Em 2004, quando os pesquisadores estiveram no território, apenas a comunidade do Engenho contava com eletricidade. "Nos últimos 20 anos houve melhorias. O acesso à energia se expandiu, há oferta de vacinas, além da presença do Programa de Saúde da Família (PSF). Acreditamos que, em princípio, tudo isso tenha impactado positivamente", afirma a coordenadora da pesquisa. Ela lembra, entretanto, que ainda há muitas carências, como a ausência de água tratada e de saneamento. "Várias das doenças que são alvos do nosso estudo são marcadores indiretos das condições de vida das pessoas."
As primeiras coletas serão feitas em pontos de acesso mais fácil, mas com a entrada da estiagem o trabalho será estendido às comunidades distantes. Algumas delas exigem até quatro horas de viagem, dada as condições geográficas. Após essa ação, o Necaih realiza, com a SES-GO, o projeto de extensão Saúde para Quilombolas: Cuidar para Resistir, com serviços de promoção à saúde, oficinas, imunização, abordagens sobre violência sexual e saúde mental e testagens rápida. Em casos positivos, o paciente é encaminhado para tratamento nas unidades do Sistema Único de Saúde.
Fapeg tem R$ 100 milhões para pesquisas em 2025
Presidente da Fapeg, Marcos Fernando Arriel comemora a assinatura do convênio. "É um projeto amplo e atende uma diretriz governamental de que o fomento à pesquisa deve ter um impacto no desenvolvimento humano. O Necaih tem grande histórico e enxergamos nesse trabalho a possibilidade de colaboração com a agenda do governo." Para o economista, além desse aspecto e do mérito do projeto, a proposta engloba ainda a extensão, os serviços de saúde que são levados à população estudada e a formação de novos pesquisadores.
Até 2025, a Fapeg deve investir cerca de R$ 100 milhões em pesquisa, inovação e geração de novas tecnologias, pelos cálculos de Marcos Arriel. Somente este ano, até o momento, foram liberados 29 editais, englobando bolsas de formação, pesquisas básicas e aplicadas e internacionalização de pesquisadores. "É um volume três vezes superior à média de anos anteriores e a partir do aumento do investimento atraímos novas colaborações, com agências governamentais e o setor privado", explica.
De acordo com Marcos Arriel, os editais da Fapeg possuem um valor médio entre R$ 20 mil e R$ 200 mil, mas com o incremento do investimento é possível fomentar projetos que ele chama de disruptivos, como esse voltado para a saúde da comunidade Kalunga.
Farofa sustentável
Ainda fortalecendo a cultura negra, o projeto Farofa do Cerrado: Produto da Sociobiodiversidade, selecionado em uma chamada pública da Fapeg em 2022 em parceria com a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza (FGB), começa a dar os primeiros frutos. Desenvolvido por profissionais do Instituto Federal de Goiás (IFG) com comunidades quilombolas que vivem em áreas de preservação no Nordeste goiano, o produto foi pré-lançado no último final de semana em feiras livres de Alto Paraíso e Cavalcante. Em dezembro, o grupo fará o lançamento oficial na fábrica do Sítio Boca do Mato, parceira do projeto.
Coordenador do projeto, o professor de Agroecologia Diogo Souza Pinto, do IFG Câmpus Cidade de Goiás explica que a farofa, produto alimentício desenvolvido com as comunidades, reúne inovação, conservação ambiental e empreendedorismo social. O objetivo é proporcionar autonomia produtiva e comercial dessas pessoas em uma dimensão emancipadora e educativa para a sustentabilidade financeira.
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