Suspensão de sistema provoca lentidão na Saúde em Goiânia
Atendimentos nas unidades de urgência passaram a ser feitos à mão e laboratório do Cais Campinas estava inoperante nesta quinta-feira (3)
Mariana Carneiro, Mariana Milioni

Fichas preenchidas à mão: recepção infantil do Cais Campinas ficou lotada nesta quinta-feira (3) (Wildes Barbosa / O Popular)
A interrupção das atividades do sistema de informação da rede pública de saúde de Goiânia causou lentidão nos atendimentos realizados nas unidades de urgência da capital nesta quinta-feira (3). As fichas dos pacientes estavam sendo feitas à mão e o laboratório do Centro de Atenção Integral à Saúde (Cais) Campinas estava inoperante. O sistema Celk funciona como uma espécie de "cérebro" da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e é onde os profissionais podem desde consultar e evoluir os prontuários eletrônicos dos pacientes até solicitar transporte para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
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Na edição desta quinta, O POPULAR mostrou com exclusividade que a Celk Sistemas, empresa responsável pela plataforma, iria iniciar a interrupção dos serviços prestados devido a uma dívida de quase R$ 6 milhões por parte da Prefeitura de Goiânia que se arrasta desde 2024. Nesta quarta-feira (2), a empresa enviou um ofício ao prefeito Sandro Mabel (UB) detalhando os valores devidos e o cronograma de desligamento dos serviços. Ao longo dos últimos meses, a Prefeitura e a Celk chegaram a negociar o pagamento da dívida, mas não entraram em consenso em relação à forma de pagamento.
A reportagem esteve em duas unidades de saúde de emergência da capital na tarde desta quinta e o clima era de lentidão e falta de comunicação na execução da rotina dos locais. No Cais Campinas, os pacientes precisavam preencher uma ficha à mão com informações pessoais. Depois, eram encaminhados para a triagem e, só após esse serviço, as informações chegavam aos médicos.
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A recepção da parte destinada aos atendimentos pediátricos estava lotada. A queixa geral dos pais foi a demora no atendimento. Os médicos precisavam escrever tudo à mão e, por isso, os atendimentos se acumularam. Ao POPULAR , uma mãe que não quis ser identificada reclamou do atraso. Ela estava com um filho prematuro nos braços e já não conseguia ficar muito mais tempo na recepção apertada. "Eu até cheguei a ir em outro Cais, mas precisei voltar para cá. Estou desde as 14 horas esperando e ainda não fui chamada", relatou por volta das 17 horas.
A realidade da parte destinada aos adultos não era muito diferente. Segundo pacientes que aguardavam atendimento, os médicos chamavam no máximo cinco pessoas por vez. No final da tarde, a reportagem conversou com uma mulher que acompanhava o marido na espera por uma consulta desde o meio-dia. De acordo com ela, além da hostilidade dos trabalhadores, muitas pessoas desistiram do atendimento por conta da demora: "Várias pessoas desistiram e saíram passando muito mal. Vi muita gente vomitando! Chegou uma menina aqui carregada e ela não deu conta de esperar, precisou ir embora naquele estado".
Uma funcionária do Cais explicou que a dificuldade de atender todas as demandas agravou-se sem o sistema. Os exames de imagem, como raio-x, eram realizados normalmente. Porém, o posto de coleta de exames laboratoriais da unidade não estava aberto por falta de funcionários. A orientação era que os pacientes procurassem outros locais para realizar os procedimentos que não podiam ser feitos no Cais Campinas e depois voltassem para finalizar as consultas . Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Novo Mundo, o fluxo de pessoas não era tão intenso e todos os serviços estavam funcionando. Porém, a dinâmica era a mesma do Cais Campinas: tudo feito à mão e de forma morosa.
Sistema
O sistema Celk é central para o bom funcionamento da rede municipal de Saúde. Tanto a abertura quanto a evolução dos prontuários nas unidades de urgência da capital ocorrem de forma eletrônica e são feitas pelo sistema. Além disso, exames também são solicitados por meio da plataforma. Na prática, isso significa que quando uma pessoa chega com, por exemplo, suspeita de enfarte em uma unidade de saúde, o pedido para que ela faça um eletrocardiograma na rede credenciada acontece por meio do sistema.
Caso o enfarte seja confirmado e essa pessoa tenha a necessidade de ser transferida para uma unidade de saúde com mais infraestrutura, a falta do Celk também pode representar um empecilho, já que o Samu, responsável pelo transporte, depende do sistema. Ao POPULAR, trabalhadores da rede municipal de Saúde informaram que, no momento, essas solicitações têm sido feitas via ligação telefônica e WhatsApp.
Nas unidades da atenção primária que já usam o prontuário eletrônico, o Celk também é utilizado para marcar consultas, solicitar exames e consultar o histórico dos pacientes. "Se um paciente que hipertenso descompensar por algum motivo e for até o posto de saúde, o profissional não conseguirá ver qual foi a última vez que ele se consultou, se ele possui alguma comorbidade que aumenta o risco, dentre outras coisas", esclarece Néia Vieira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde-GO).
O cronograma de interrupção do serviço apresentado pela Celk já previa a suspensão do suporte técnico e a redução da capacidade da infraestrutura em nuvem ainda na quarta. Para quinta, estava programado o desligamento dos módulos de atendimento ambulatorial e da Central de Regulação do Samu. Nesta sexta-feira (4), deve ser feito o desligamento dos demais módulos do sistema.
O Sindsaúde-GO tece críticas ao fato da Prefeitura ter se tornado dependente de um sistema operacional de uma empresa privada. "Virou refém", aponta Néia, que detalha que existem alternativas gratuitas que podem ser usadas pela gestão, como o e-SUS, do governo federal. "Não são sistemas perfeitos, mas nem o Celk é", frisa Néia.
Celk
Em nota, a Celk lamentou a situação atual, mas destacou que o cronograma de desligamento gradual dos módulos foi previamente comunicado ao Município. A Celk informou ainda que "permanece aberta ao diálogo e disposta a manter a prestação dos serviços, basta apenas que o Município regularize a ausência de contrato e os pagamentos".
SMS
Em nota, a SMS comunicou que "o atendimento aos pacientes não foi interrompido e a secretaria trabalha para reduzir os impactos aos usuários". A pasta também frisou que o executa um plano de contingenciamento que já era utilizado nos momentos em que o sistema ficava inoperante e que efetuou a reativação de um sistema próprio do município. A secretaria também solicitou à Procuradoria Geral do Município (PGM) o acionamento judicial da empresa para a operacionalização das ferramentas até a completa transferência do banco de dados para nova hospedagem.
(Mariana Milioni é estagiária do GJC em convênio com a PUC Goiás)
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